São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 1997
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'A Ilha Perdida' revela pouco do romance de Margaret Mitchell

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1995, após uma série de acasos, surpresas e segredos sussurrados, o mundo recebeu a notícia de que a escritora americana Margaret Mitchell (1900-1949), autora de "...E o Vento Levou", havia deixado uma obra inédita.
"A Ilha Perdida" (que a Record lança agora no Brasil) era então a revelação.
Conhecida por ter produzido apenas um romance durante toda sua vida -um best seller que vendeu até agora 30 milhões de exemplares-, e incorporado, com grande ajuda do cinema, a cidade de Atlanta ao imaginário de seu país, Mitchell pediu no fim da vida que todos os seus manuscritos fossem destruídos.
"A Ilha" é resultado de um acaso. A história, escrita em um caderno de lembranças adolescentes, quando a autora completava 16 anos, foi presenteada a Henry Angel, um dos seus amigos.
A família de Angel, que morreu quatro anos antes de Mitchell, nunca soube exatamente qual a verdadeira relação entre os dois. Um filho descobre os cadernos, que ganham condição de relíquia.
São 60 páginas. Temos, mais uma vez, um triângulo amoroso. Uma garota que é disputada por dois homens em meio a capitães, barcos, marinheiros e o Oriente.
Uma paixão que termina em tragédia, repleta de frases como "os olhos se entreabriram e faiscavam como estrelas" ou "uma mulher que pôs a honra acima da vida".
O texto é, enfim, tão juvenil quanto sua autora. Um passatempo que pouco acrescenta aos interessados na gênese de "...E o Vento" ou no reencontro com seu estilo que, de certa maneira, foi um prenúncio para o modelo de best seller (a história romântica somada a um painel histórico) que se firmaria décadas depois.
Se existe algum interesse em "A Ilha Perdida" são as cartas e fotos que complementam o volume.
Mitchell escreve para Angel, conta banalidades e travessuras. Ele confessadamente a ama, mas ela prefere a companhia de um outro jovem.
Mas Mitchell não o libera. Faz com que ele permaneça em sua órbita, acenando sempre com uma possibilidade, com a idéia de que um dia, quem sabe, talvez. Isso dura até o momento em que ela se casa com um outro.
Angel recolhe sua frustração, a correspondência, os presentes para terminar com um outra mulher, em uma típica vida sulista.
O livro, nesses cacos de paixão frustrada, se parece com um típica história de F. Scott Fitzgerald, em que as pessoas, em nome da manutenção da frivolidade, fazem da existência uma procura pelo prazer ocasional, sem laços e compromissos.
A todo momento, nos textos introdutórios do livro, se quer fazer crer que Mitchell, sua vida e literatura são um caso único. Algo que, apesar de todos os esforços, está muito longe da verdade.

Livro: A Ilha Perdida
Autora: Margaret Mitchell
Lançamento: Record
Quanto: US$ 22 (152 páginas)

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