São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente promete manter reformas

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O presidente chinês, Jiang Zemin, disse ontem que vai transformar a "profunda tristeza em força" para continuar as reformas econômicas deslanchadas por Deng Xiaoping.
Foi sua primeira declaração à imprensa desde a morte de Deng, ocorrida na última quarta-feira.
A morte de Deng, o líder comunista responsável pelas reformas pró-capitalismo que deram à China uma das economias mais dinâmicas do planeta, foi provocada por consequências de mal de Parkinson e infecção pulmonar. Ele tinha 92 anos.
Herdeiro nomeado por Deng, Jiang Zemin recebeu mensagem de apoio das Forças Armadas. O comando militar reafirmou que o presidente pode contar com sua lealdade em "todos os momentos e em quaisquer circunstâncias".
A Suprema Corte do Povo, órgão máximo do Poder Judiciário na China, afirmou que haverá "aplicação severa da lei" para impedir que demonstrações de pesar pela morte de Deng se transformem em manifestações políticas.
Na praça Tiananmen, em Pequim, a polícia deteve um homem que levava coroa de flores com a inscrição "Deng Xiaoping".
Ele caminhava rumo ao mausoléu onde está o corpo embalsamado de Mao Tse-tung, o líder da revolução comunista de 1949.
O governo chinês anunciou como sua prioridade a "manutenção da estabilidade". Teme, por exemplo, a repetição de 1989, quando a morte de Hu Yaobang, um dirigente do Partido Comunista, serviu de estopim para deslanchar o movimento pró-democracia da praça Tiananmen.
Ativistas ocuparam a praça durante 48 dias, e o movimento foi esmagado com violência por tropas enviadas sob ordens de Deng.
Depois do massacre, Deng nomeou Jiang Zemin como seu sucessor e, em 1990, abandonou a cena política. Continuou a manter bastante influência, enquanto seu herdeiro, então com pouca experiência no mundo do poder em Pequim, se preocupava em ampliar sua base de apoio.
A mensagem de apoio dos militares era esperada, pois nos últimos anos Jiang Zemin buscou promover generais leais a ele.
O presidente Jiang também chefia a Comissão Central Militar, que coordena as Forças Armadas.
Nos dias seguintes à morte de Deng, o presidente Jiang tem conseguido manter o clima de calma que contrasta com as turbulências ocorridas depois da morte de Mao Tse-tung, em 1976.
Na terça-feira, fim do luto oficial de seis dias, pelo menos 10 mil pessoas vão se reunir no Grande Palácio do Povo, em Pequim, na única cerimônia pública em homenagem a Deng. Não haverá convidados estrangeiros.
A família de Deng pediu que fossem realizadas "cerimônias simples", seguindo o desejo do líder que tirou a China do isolamento político e econômico. Deng rejeitava o culto a personalidade que marcou, por exemplo, o reinado de Mao Tse-tung.
Monopólio de poder
O corpo de Deng será cremado, e suas cinzas, jogadas ao mar. As córneas serão doadas a um banco de olhos.
Jiang Zemin prometeu continuar a estratégia de Deng em encontro com o presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbaiev. O presidente prossegue a linha de avançar a abertura econômica sem sacrificar o monopólio do poder exercido pelo Partido Comunista.
Jiang Zemin também encabeça o comitê formado para organizar o funeral de Deng, sinal de seu controle do cenário político. Em outubro, data provável para realização do 15º Congresso do Partido Comunista, o presidente deve sacramentar seu poder e condição de herdeiro de Deng Xiaoping.
Jiang, pelo menos num futuro próximo, não deve enfrentar desafios a sua condição de "novo timoneiro" da China. Mas, para garantir a sobrevivência política, o presidente precisará administrar rivalidades no Partido Comunista e também deverá ter habilidade para continuar a alquimia de manter reformas pró-capitalismo num regime de partido único.

Luto oficial de
6 dias para o líder chinês Deng Xiaoping termina na terça-feira

Texto Anterior: Netanyahu pode ser indiciado, afirmam TVs
Próximo Texto: Multidão vai à casa de Deng
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.