São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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Robertinho, 22, oscila entre o 'bico' e a bola

LUÍS CURRO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Olha, amigo, futebol é o seguinte: se você tem nome, está feito. Se não tem, não é ninguém."
Com essas palavras, o baiano Roberto Nazario de Carvalho, o Robertinho, exprime sua decepção com o futebol brasileiro.
Aos 22 anos, Robertinho é o protótipo do jogador desempregado: vive mudando de cidade, contatando empresários, visitando clubes, pedindo ao atleta empregado que lhe arranje um time.
O Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo, sem citar números, afirma que há centenas de jogadores de futebol na mesma situação que Robertinho, pois a procura por clubes é muito maior que a oferta.
"Já falei com o Alex Alves e o Zinho (jogadores da Lusa), o Romário (Flamengo), o Edmundo (Vasco), o Cafu (Palmeiras), e o Souza (Corinthians). Não deu em nada", afirma Robertinho.
Segundo ele, há uma desunião muito grande entre os jogadores. "Todos dizem que não podem fazer nada, mas não se lembram que um dia já estiveram por baixo."
Robertinho, porém, lembra uma exceção: o atacante Rivaldo, ex-Palmeiras e atualmente no espanhol La Coruña. "Foi ele que me indicou para meu último clube, o Vasco de Nova Milano."
Persistência
Robertinho afirma ter procurado, no final do ano passado, o repórter Gil Gomes e o cantor e vereador Agnaldo Timóteo, na intenção que um deles pudesse ajudá-lo a se empregar em alguma equipe. Teve sucesso com Timóteo.
"Ele telefonou para o Fluminense, da Bahia, e eles me chamaram para um teste", conta o jogador, que teve o nome divulgado em jornais locais.
Mas uma contusão no primeiro treino acabou com qualquer perspectiva de obter um contrato.
"Tive de pedir dinheiro ao presidente do Fluminense, insistir muito, para conseguir voltar para São Paulo", diz Robertinho.
Faz-tudo
Acostumado a vagar pelo Brasil, Robertinho se viu obrigado a "se virar" para conseguir dinheiro para sua sobrevivência.
Com o pai, aprendeu a produzir tecidos e estofar móveis. Também trabalhou no garimpo (sua mãe, até hoje, garimpa no interior da Bahia).
Mas foi no ano passado, em São Paulo, após oportunidade frustrada de jogar nos EUA, que Robertinho tornou-se um trabalhador "eclético". Fez três "bicos": entregador de compras, ajudante de padeiro e segurança de loja.
Na semana passada -último contato do atleta com a Folha-, tinha virado camelô, vendendo calças e tênis perto da estação São Bento do metrô.
"Sempre tive muita vontade de jogar, mas atualmente estou desanimado. Se não conseguir nada logo, vou voltar para a Bahia e trabalhar como estofador. Abandono o futebol e vou procurar um emprego fixo."

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