São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997 |
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Livro reflete nosso mundo
MARCELO RUBENS PAIVA
Sem fazer apologia desta ou daquela droga, tais livros devem embutir o retrato de uma época e serem lidos longe das arcadas judiciais, mas por meio da lupa comportamental; afinal, o mundo em que se vive reflete-se na droga que se toma. "Ecstasy e a Cultura Dance" traz um histórico da droga e de sua posterior proibição, um balanço dos efeitos pessoais e sociais e analisa danos físicos e psicológicos e as experiências em rituais. O autor foi cuidadoso em destacar o ambiente em que ela se proliferou, as "raves" (festas surpresas em grandes espaços), e a cultura dance gerada por usuários e simpatizantes. Mas não conseguiu esconder um ligeiro deslumbramento. O LSD e o ecstasy não pertencem a cultos de povos antigos. São drogas de laboratório, cujos "sintomas são familiares", escreveu. Foram inventadas com intenções terapêuticas, na era de contestação à psicanálise -procuram-se sanar distúrbios psicológicos por meio da química e não de um longo e custoso tratamento em divã. Uma das qualidades do livro é mostrar as deturpações sobre a droga, típico em uma imprensa sensacionalista -o autor prova que jornalistas manipularam dados para mistificar o ecstasy. No entanto, o autor usa argumentos quase infantis para explicar a proibição, que seria um lobby da indústria do álcool e tabaco, e que os jovens querem se divertir, "mas o governo é contra". Saunders, um usuário confesso, afirma que, na Irlanda do Norte em guerra, jovens católicos e protestantes se unem quando o assunto é "rave" e ecstasy, e que "hooligans" (torcedores de futebol) tornam-se dóceis sob efeito da droga. Sugere que o ecstasy traz a união de povos e pacifica conflitos insolúveis. Será? Dentro de um ambiente onde as relações pessoais são tensas e regradas (travadas), como entre a juventude inglesa e norte-americana, o ecstasy torna-se a salvação. Já em países latinos como Itália, Espanha e Brasil, onde a afetividade extrapola esferas da razão, a droga é pouco usada. "A droga do sexo", "a droga da diversão" ou, como preferem os apocalípticos, "a droga do futuro", talvez não passe de uma pílula de espaço e momento restrito na história das drogas. Talvez. Texto Anterior: 'Não faço apologia a drogas', diz Saunders Próximo Texto: Grammy troca Los Angeles por Nova York Índice |
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