São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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Crise do algodão provoca êxodo no PR

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

Em plena decadência, a cultura algodoeira vai deixar de ofertar emprego a 25 mil pessoas nesta safra no Paraná.
O Estado, que já foi o principal produtor de algodão do país, plantou apenas 68,6 mil ha nesta safra e tem estimativa de produção de 130 mil t.
Desde a sua última grande safra em área plantada (91/92), que ocupou 704 mil ha no Estado, o algodão já provocou perda de 172 mil postos de trabalho.
O declínio da cultura frustrou até mesmo as expectativas dos técnicos do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão da Secretaria de Agricultura do Paraná.
No final de 96, o Deral previa que seriam plantados 97.700 ha. A redução foi de cerca de 30%.
Muitos dos trabalhadores rurais temporários (bóias-frias), sem emprego, acabaram migrando para culturas como a mandioca (no noroeste do PR) e colheitas sazonais como a laranja (em São Paulo) ou café (Minas Gerais).
Segundo Arnaldo Nascimento de Jesus, 44, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bela Vista do Paraíso (norte do PR), a maioria, no entanto, acabou migrando para grandes centros, como a região metropolitana de Curitiba.
"Nas pequenas cidades do interior ficaram apenas os velhos e mulheres, que vivem de trabalhar dois dias por semana e recorrem às cestas básicas fornecidas pelas prefeituras", afirma Jesus.
Ele cita como exemplo seu próprio sindicato, onde cerca de 1.500 associados estão "na construção civil das grandes cidades ou perambulando em busca de trabalho em outros Estados".
Coincidência estatística ou não, dados fornecidos pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que nos últimos cinco anos (período do acentuado declínio da cultura de algodão no PR) a região metropolitana de Curitiba cresceu, em termos de população, 17,2%.
Só o município de Fazenda Rio Grande (um dos mais pobres da região metropolitana) teve um crescimento populacional de 80,5% nesses últimos cinco anos. Curitiba cresceu, no mesmo período, 11,4%.
Mesmo com a drástica redução de área e com o início de um novo modelo de produção, o algodão ainda cumpre importante função social no Estado.
Estimativas do Deral indicam que aproximadamente 26 mil pessoas ainda irão trabalhar na colheita da safra deste ano, com início previsto para o mês de abril.

Leia mais sobre algodão na pág. 6-4

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