São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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Folhinha na parede

SÍLVIO LANCELLOTTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Calendário, no futebol do Brasil, é uma folhinha dependurada na parede. Geralmente do ano anterior e até mesmo com erros de impressão.
Na Europa, todavia, calendário é coisa séria - e coisa bem antiga. Tudo começou em 1955, quando um legendário jornalista francês, Gabriel Hanot, do diário "L'Equipe", convenceu os dirigentes dos principais países do continente a instituírem a sua primeira grande Copa dos Campeões.
Na época, algumas nações, como a Espanha, a França, a Inglaterra e a Itália, já mantinham campeonatos regulares e organizadíssimos, em turno e em returno, por muitas décadas. Na Inglaterra, desde 1889. Na Itália e na Espanha, desde 1929. Na França, desde 1944. Disputavam-se tais competições basicamente nos sábados e nos domingos. Os meios de semana se reservavam aos torneios assessórios, como as copas locais e, eventualmente, aos confrontos oficiais e amistosos entre seleções.
O sucesso da Copa dos Campeões estimulou os dirigentes da Europa a montarem mais dois torneios interclubes paralelos. Em 1960 se tornou anual a velha Copa das Cidades de Feiras, posteriormente Copa da Uefa, destinada a manter em ação os outros melhores clubes de cada país. Ainda em 60 nasceu a Recopa, com os ganhadores das copas locais.
Subitamente, além das seleções, cerca de 120 clubes passaram a se mobilizar nos meios de semana. Foi inevitável a formalização do calendário, no mínimo com uma temporada inteirinha de antecedência.
Hoje, a situação parece muito mais complicada. Com a degringolada do comunismo, de 33 nações afiliadas a Uefa passou a ostentar meia centena. Para abrigar os clubes dos novos países, se expandiram os torneios interclubes. Criou-se a Copa Intertoto, classificatória para a da Uefa. O número de times em ação nos interclubes do continente subiu para quase 250. Planeja-se o calendário com dois, três anos de antecedência.
A Europa já sabe que datas utilizará nos seus campeonatos nacionais, nos seus torneios paralelos, nas copas do continente e, principalmente, que datas reservará às seleções disputantes das eliminatórias do seu certame de seleções de 2000, fase final marcada para a Bélgica e a Holanda.
Detalhe: por lá não existe o tapetão dos tribunais.
Verdade que, para as eliminatórias da Copa da França, a nossa cara Conmebol, a confederação da América do Sul, meras dez nações afiliadas, teve a suprema sabedoria de estabelecer rodadas exclusivamente às quartas-feiras - e em datas comuns às das eliminatórias da Europa.
Dessa maneira, os treinadores sul-americanos podem contar com todos os seus jogadores expatriados. Não ocorre mais a coincidência de datas entre os cotejos dos clubes da Europa e os prélios das seleções do Novo Mundo. O calendário da América do Sul, porém, continua incipiente, repleto de remendos, de improvisações terríveis de última hora.
E a coisa, aqui, mais se complica com a realização dos campeonatos regionais superpostos a uma descontrolada Copa do Brasil - que apenas deveria ostentar os campeões de todos os Estados e, no máximo, os vices dos oito principais.
Os dirigentes brasileiros precisam aprender que o bom, bem realizado, é sempre muito melhor do que o ótimo por eles suposto e fantasiado.

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