São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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Fraude de óbitos pode ter mais de 10 anos

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A falsificação de atestados de óbito em São Paulo pode estar acontecendo há muito mais tempo do que a polícia imagina. A Folha apurou que há casos em que o esquema Heliópolis, como está sendo chamada a operação de fraude, foi praticado há mais de dez anos.
Até então, a polícia trabalhava com a informação de que a fraude acontecia desde janeiro de 95, quando entrou em vigor a lei que permitia o transporte intermunicipal de cadáveres.
O caso veio à tona dia 21, quando a polícia informou ter descoberto uma quadrilha que oferecia, mediante pagamento, facilidade na liberação do corpo de pessoas mortas no Hospital Heliópolis.
O pacote incluía atestado de óbito falsificado, liberação do corpo sem a necessidade de autópsia e caixão, cujo preço era sempre acima do valor de mercado. O esquema favorecia agências funerárias de São Caetano do Sul (no ABCD).
Além da falsificação do atestado, a causa da morte era quase sempre a mesma, independente do motivo real. Nos atestados também constava que o paciente havia morrido no PS Municipal de São Caetano.
Fora o Heliópolis, a polícia recebeu denúncia de que a fraude também ocorria nos hospitais do Ipiranga (zona sul), na Beneficência Portuguesa de São Caetano e no PS Municipal de São Caetano. Outros três hospitais, os nomes não foram revelados, são investigados.
Caso de 85
O contador Aparecido de Souza Umbelino disse ontem à Folha que comprou um atestado de óbito falso em 85, quando o sogro morreu.
Lourival Pereira da Luz Madureira ficou internado por 21 dias no Heliópolis por causa de uma inflamação no estômago. Ele morreu no dia 9 de setembro de 85, às 21h.
Umbelino foi informado pelo investigador de plantão do hospital que, para conseguir o atestado de óbito, ele precisaria enviar o corpo para o IML, para ser autopsiado.
O contador perguntou se não haveria outro meio. Foi indicado que ele procurasse uma pessoa chamada Benedito, que trabalhava no hospital. "O Benedito disse que poderia indicar um médico amigo dele, que venderia o atestado."
O esquema também envolveria a funerária Central. O atestado de óbito foi entregue, segundo Umbelino, sem que o médico Valderes Lima Silva examinasse o corpo.
Ângela Maria da Silva Tucunduva, que mora no Ipiranga, disse que também foi alvo do esquema em 93, quando seu irmão morreu.
Rui Jorge Correia da Silva morreu a caminho do Heliópolis no dia 12 de fevereiro de 93. "Pediram para que a gente conseguisse um atestado de qualquer maneira, caso contrário o corpo iria para o IML. Eles indicaram o Herbert Martinez, mas conseguimos um atestado com um médico da família", disse Ângela. Martinez foi indiciado anteontem pela polícia sob acusação de falsidade ideológica e formação de quadrilha.

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