São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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França vive 'revolta cultural'

BETINA BERNARDES
DE PARIS

Primeiro, eles pegaram um "trem da liberdade" e desembarcaram em Toulon. Depois, assinaram duas petições que "incendiaram" o país e fizeram deste fevereiro de 97 um inverno inesquecível para a classe artística francesa e um eco, ainda que involuntário, da revolução de maio de 68 (veja texto à página 4-3).
Os cabeças do movimento que resultou na passeata dos 100 mil de sábado e nas manifestações do início desta semana foram os cineastas e escritores franceses, que logo receberam a adesão de atores, dançarinos, coreógrafos, pintores, e profissionais liberais, chegando a reunir 120 mil assinaturas.
Por trás de tudo, a indignação em relação às leis que regulam a imigração na França, que eles classificam de "desumanas". O que alimenta essa revolta moral, no entanto, é a identificação por parte de artistas e intelectuais de uma "intolerância" crescente no país.
Para eles, a vitória do partido de extrema-direita Frente Nacional em mais uma cidade e a política cultural que seus prefeitos desenvolvem, com o fechamento de teatros (como foi o caso em Toulon, no sul da França) e o controle de obras nas bibliotecas, é um sintoma dessa intolerância.
O tratamento reservado à cultura imigrante é apenas um ponto dessa tensão crescente.
"Numerosos filmes anunciaram que qualquer coisa se rachara na sociedade francesa. O subúrbio, nós conhecemos, nós o filmamos. Os cineastas são também os sismógrafos das nossas crises sociais", disse o cineasta Bertrand Tavernier, um dos mais ativos nos protestos, em entrevista à revista "Le Nouvel Observateur".
O engajamento de artistas não é novidade. Em Paris, o Beaubourg oferece, até 7 de abril, com a exposição "Face à l'Histoire", uma oportunidade de verificar, por intermédio de 450 obras, a visão de 200 artistas de diferentes partes do mundo sobre acontecimentos políticos que marcaram a história nos últimos 60 anos.

LEIA MAIS sobre Fevereiro de 97 na França à página 4-3

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