São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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Gerda Brentani comemora 91 anos com exposição no MAC

CASSIANO ELEK MACHADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Hoje a artista plástica Gerda Brentani assopra 91 velinhas e inaugura exposição no Museu de Arte Contemporânea da USP com duas séries de desenhos inéditos, produzidos entre 1987 e 1996.
Gerda nasceu em Trieste, no então Império Austro-Húngaro -hoje, a cidade pertence à Itália.
Quando criança, em Trieste, conviveu com os escritores Thomas Mann e Ítalo Svevo, amigos de seus pais.
Na juventude, dançou ao lado de Mary Wigman, aluna de Isadora Duncan e considerada uma das precursoras da dança moderna.
Depois que sua família se recusou a hospedar o ditador italiano Benito Mussolini, Gerda partiu para a América. Chegou ao Brasil com apenas cinco palavras em português na bagagem: cogumelo, alvorada, obrigada, pororoca e bom dia. Mesmo assim, em poucos meses já estava "adotada" pela intelligentsia tupiniquim.
"Descoberta" por Ernesto de Fiori, Gerda enveredou pelos traços delicados do Grupo Santa Helena, formado, entre outros, por Volpi, Bonadei e Rebolo, três de seu melhores amigos.
Dona de autocrítica que ela classifica de feroz, aprendeu a não rasgar seus trabalhos com Tarsila do Amaral. Com isso, acumulou acervo tão vasto, que, só em um arquivo de seu ateliê, guarda 350 trabalhos, produzidos em cinco horas diárias ao longo de 50 anos.
São dezenas de bichos, em especial insetos, que desenhou para servir de companhia a textos de Paulo Vanzolini, zoólogo e sambista emérito.
Na série "Terra Papagalorum", composta por obras realizadas entre 1987 e 89, que estão em exposição no MAC, podem ser encontrados vários dos elementos que compõem a base estilística de Gerda.
O humor lírico e inteligente, os finíssimos e espontâneos traços em bico-de-pena e as cores aquareladas à Cícero Dias convivem nos 31 desenhos com títulos inspirados em nomes de músicas.
Na segunda série, "Antropófolosophia", Gerda deixa escapar outra de suas habilidades: o talento para contar histórias.
Em 14 desenhos e seus respectivos textos, a artista narra uma versão pessoal e bem-humorada da criação do universo.
Tudo começa com o "pófolo", fruto da fantasia de Dominimundis e Satanás que sintetiza a "forte e redonda vontade de viver".
Gerda Brentani, que começou a desenhar antes da Primeira Guerra Mundial, parece ter engulido um generoso pedaço de "pófolo".

Exposição: Gerda Brentani
Vernissage: hoje, às 19h
Quando: segunda a sexta, das 12h às 20h. Sábado, das 9h às 13h. Até 30 de março Onde: MAC-USP (r. da Reitoria, 160, Cidade Universitária, tel. 818-3538)

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