São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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Sem-teto começam a trabalhar hoje

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

João de Jesus, 44, natural de Umbaúba (SE), e Orlando Basílio dos Reis, 34, baiano de Medeiros Neto, foram os dois primeiros sem-teto chamados para trabalhar na limpeza da cidade de São Paulo.
Frequentadores do albergue do Gasômetro, eles assinaram contrato ontem com a CBPO e provaram os uniformes novos -cor de laranja- de varredores.
Os dois começam a trabalhar hoje na zona leste, na área de São Miguel Paulista. Cada um receberá R$ 255,20 mensais e trabalhará sete horas e vinte minutos por dia.
Os dois receberam vales-refeição e vale-transporte e têm direito também a convênio-farmácia, assistência médica e odontológica.
O contrato, segundo a CBPO, é de 90 dias de experiência. Se passarem nas avaliações, que farão de 45 em 45 dias, ficam com o emprego.
Duas histórias
João de Jesus é casado com Julia, 37, e é pai de cinco filhos -José, 19, João, 18, Luís, 16, Simone, 12, e Luan, 6.
Julia e os filhos estão em Umbaúba, cidade a 100 km de Aracaju. Ela cuida do pequeno sítio do casal e dos filhos menores, "que estão todos estudando", afirma Jesus.
Os dois filhos mais velhos já estão em Aracaju, trabalhando. Não é a primeira vez que João vem a São Paulo. Das outras vezes trabalhou como pedreiro e vigia de obra.
"Desta vez foi mais difícil, pela primeira vez fui para um albergue e não consegui emprego em menos de um mês", disse Jesus, que pretende mandar, pelo correio, parte do salário para a mulher.
"Sempre fui trabalhador. Não sou mendigo. Só tive dificuldade para arrumar serviço desta vez."
Orlando Basílio nasceu na Bahia, mas foi criado em Belo Horizonte. Ele é solteiro e sua família -pai, madrasta e sete irmãos- vive em Minas Gerais. "Meu sonho é juntar dinheiro e ter a minha casa. Quero me fixar em São Paulo. Esmola é uma palavra que não cabe no meu dicionário."

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