São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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Adolescentes ganham profissão e comida

JUNIA NOGUEIRA DE SÁ
ESPECIAL PARA A FOLHA

A cada seis meses, cerca de 120 adolescentes de um dos bairros mais pobres e violentos de São Paulo, o Jardim Miriam (na zona sul da capital), ganham profissão. Para isso, não gastam nada e ainda recebem duas refeições por dia, orientação psicológica e sexual, reforço no conhecimento de português e atendimento médico.
Durante um semestre completo eles frequentam as aulas de eletricista, cabeleireiro ou auxiliar de escritório na Associação Comunitária Despertar, uma entidade mantida por meio de doações particulares e de um convênio com a prefeitura. São profissões simples, mas que facilitam a entrada de moças e rapazes entre 14 e 17 anos no mercado de trabalho.
A única obrigação dos adolescentes é acompanhar a jornada diária de cinco horas, pela manhã ou à tarde, e não faltar. O Despertar não substitui a escola regular e estimula aqueles que querem continuar estudando. Muitos frequentam as escolas públicas da região.
Cada um dos adolescentes custa menos de um salário mínimo por mês, com todos os gastos da associação incluídos. O médico, as psicólogas e pedagogas que dão orientação sexual e toda a diretoria trabalham ali como voluntários.
Parte da comida é doada pela prefeitura, por meio da Secretaria do Bem-Estar Social, que também entrega R$ 10.731,00 mensais. Como os custos são o dobro disso, o restante do dinheiro tem que ser arrecadado em doações.
"Não é fácil, mas os resultados animam e nós seguimos em frente", diz Milú Villela, 50, que divide o tempo entre a presidência do MAM (Museu de Arte Moderna) e a direção do Despertar e que mensalmente coloca dinheiro do próprio bolso na associação.
"Todos nós precisamos fazer alguma coisa. Precisamos nos engajar em vez de apenas reclamar e ver a barbárie à nossa volta."
Começo
Em 1994, quando pediu à prefeitura que cedesse um espaço para montar a associação, Milú Villela recebeu um centro de convivência pequeno, malconstruído e semi-abandonado. Durante dois meses, com a paisagista Amélia Bratke e a psicóloga Maria Helena do Amaral Osório Bueno, ambas hoje na diretoria do Despertar, Milú Villela fez incontáveis reuniões com os líderes da comunidade.
Vencida a desconfiança dos moradores, o Despertar abriu as portas em setembro de 94 e nunca mais parou. Em setembro, passa a ser considerado "de utilidade pública", depois de três anos. Terá direito a mais verbas públicas e mais facilidade de obter doações de empresas.
Entre os projetos para os próximos meses, Milú Villela diz que pretende incluir cursos de informação para gestantes e alfabetização de adultos na agenda. Quer também convencer algum dentista com algumas horas vagas na semana a trabalhar como voluntário ali.
Atualmente, o Despertar oferece, além da profissionalização dos adolescentes, atividades como ginástica para suas mães, futebol para crianças de 7 a 10 anos e um curso de corte e costura de lingerie.

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