São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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Desorganização prejudica os direitos de TV e impede revolução nos clubes

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

A televisão revolucionou a economia do futebol.
Graças a ela, muitas das mudanças que ajudaram no boom econômico do futebol, principalmente na Europa, tornaram-se possíveis nas duas últimas décadas.
Hoje em dia, nos países de ponta da economia do futebol (Inglaterra, Itália e Espanha, principalmente), as televisões pagam verdadeiras fortunas pelos direitos de transmissões das partidas.
Para boa parte dos clubes nesses países, as cotas das televisões são tão importante que chegam a ser a sua principal fonte de recursos.
A televisão é também a principal responsável pela internacionalização do futebol.
Hoje em dia, as partidas de futebol representam imagens que podem ser comercializadas em escala global, uma vez que a linguagem do futebol tornou-se universal.
Para certos patrocinadores, que procuram mercados em escala global para os seus produtos, a simples aparição em poucos jogos de alguns países significa presença garantida em televisores de quase todos os países do mundo.
Essa é a estratégia, por exemplo, das empresas transnacionais que fabricam produtos esportivos. Ter uma placa no campo em uma final de Copa dos Campeões da Europa, por exemplo, significa estar sendo visto pelo mundo todo.
Jogando contra
No Brasil, a desorganização dos calendários e a competição entre federações e CBF criaram uma relação perversa com a televisão, onde uns e outros impedem, reciprocamente, que a parceira entre televisão e futebol possa frutificar com benefícios mútuos.
Quem negocia os direitos de transmissão para a TV do Campeonato Paulista, por exemplo, é a Federação Paulista de Futebol.
A federação paga uma quantia por jogo a cada time, mas essa quantia inclui não só os direitos de televisão, mas também os outros recursos e ajudas de custo que ela transfere para os clubes.
A maior parte dos clubes nem sequer sabe o quanto está recebendo dos direitos da televisão.
Para o Brasileiro, quem negocia é o Clube dos 13, uma associação autônoma dos teoricamente 13 maiores clubes do país.
O Clube dos 13 vem aumentando o valor da concessão dos direitos e este ano está valorizando bastante o seu produto.
Por seu lado, as redes de televisão também colocaram lá em cima as suas cotas de patrocínio para o futebol. A Globo, por exemplo, vendeu cada uma das suas cotas de futebol para 97 por aproximadamente R$ 25 milhões, um preço de primeiríssimo mundo.
Ocorre que, na verdade, o Clube dos 13 vende uma mercadoria que não é totalmente sua.
Para as TVs, não basta comprar os direitos de transmitir os jogos do Flamengo e do Corinthians. Ela precisa também saber antecipadamente o dia e o horário dos jogos.
Como quem organiza a tabela e o regulamento do Campeonato Brasileiro não é o Clube dos 13, mas sim a CBF, as televisões pagam por um produto que elas não sabem bem qual será.
Tiro no escuro
É por isso que alguns publicitários consideram mau negócio comprar as cotas de futebol da TV no Brasil.
"Você paga caro por um produto no escuro: você não sabe que jogos terá, se o horário ou o dia serão adequados ao seu produto e se o Campeonato Brasileiro vai sofrer a concorrência de outros torneios com os mesmos times. Além disso, do jeito que é o Brasileiro, as chances de os jogos decisivos serem entre times de pouco apelo são muito grandes", diz um deles.
Na Europa, a tendência tem sido a do aumento organizado de jogos pela televisão. Mas, lá, não houve evasão de público dos estádios em função da TV. Os jogos que são pagos para se ver na TV também aumentaram a renda das equipes.
No Brasil, o excesso de oferta de jogos na TV diminui a audiência e acaba com o público nos estádios.

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