São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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'Evita' estréia com Perón, Che Guevara e Madonna

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

A frase mais célebre e messiânica de Evita foi: "Voltarei e serei milhões". O que ela não sabia é que seu retorno se daria justo agora.
E não desconfiava que os milhões a que se referia seriam dólares (US$ 120 milhões já arrecadou o filme) e polêmicas (desde críticas de Madonna à Argentina até bombas e distúrbios na estréia no país).
O musical "Evita" chega hoje às telas brasileiras, mas antes teve de enfrentar duas grandes inimizades: o peronismo e Hollywood.
O primeiro tornou turbulenta a vida dos atores e do diretor Alan Parker durante as filmagens e a estréia do filme na Argentina. O segundo negou indicações para os principais Oscar, como melhor filme, direção e atriz principal.
E a cantora Madonna, que protagoniza Evita (1919-1952), ajudou a abastecer o noticiário sobre os bastidores do filme. Começou com sua gravidez durante as gravações (Madonna ficou com aspecto roliço quando tinha de interpretar uma Evita moribunda) e continuou com suas críticas aos argentinos e seus costumes.
Em entrevista à revista "Vanity Fair", a cantora classificou o país de "não civilizado", a comitiva do presidente Carlos Menem de "homens suspeitos" e disse que Menem ficou olhando seu sutiã durante seu encontro com ele.
Em janeiro de 1996, Madonna, o espanhol Antonio Banderas (Che Guevara), Jonathan Pryce (Juan Domingo Perón) e toda a equipe chegaram à Argentina para filmar.
Os peronistas, herdeiros ideológicos do casal Perón, picharam muros com "Fora Madonna! Viva Evita!" e fizeram protestos nos sets, com ameaças de bomba.
Por seu lado, o presidente Menem criticou o filme em um princípio, mas, após um trabalho de diplomacia da produção, recebeu Madonna e permitiu que filmassem no balcão da Casa Rosada, a sede do governo nacional.
Depois de finalizado na Hungria, o filme voltou a Argentina para novos problemas.
O vice-presidente, Carlos Ruckauf, propôs um boicote à superprodução.
Em seu primeiro dia em cartaz, houve verdadeiros piquetes na porta dos cinemas que exibiam "Evita". Com bombas e cartazes ("Alan Parker, rato mentiroso a serviço da coroa inglesa"), os militantes peronistas pediam para as pessoas não entrarem nas salas. Em um cinema portenho, na primeira sessão, foi jogado um produto agrotóxico de forte cheiro, o que obrigou os espectadores a saírem da sala. Na cidade de La Plata, 50 integrantes do grupo esquerdista Quebracho depedraram uma fachada de cinema e agrediram o bilheteiro.

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