São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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EPICENTRO EM SÃO PAULO

Em 21 de fevereiro, o então coordenador da Dívida Pública do município de São Paulo, Wagner Baptista Ramos, pediu afastamento após admitir, em depoimento à CPI dos títulos públicos, que recebera R$ 150 mil da corretora Perfil, por assessoria na negociação desses títulos. Estava claro o conflito de interesses. O responsável pela gestão da carteira municipal tinha honorários pagos pelos que estavam do outro lado do balcão.
Nesta semana, as investigações da CPI apontaram Ramos como um dos mentores do esquema de emissão de títulos, baseados em precatórios, por vários municípios e Estados.
O secretário da Fazenda de Pernambuco afirmou ter sido procurado por ele e pelo Banco Vetor (liquidado pelo BC e suspeito de ser um dos pivôs do esquema). O ex-secretário de Economia de Guarulhos admitiu a assessoria de Wagner Ramos na "gestão de dívida". A CPI ainda identificou trechos idênticos em documentos de Campinas e Osasco e suspeita que Ramos tenha elaborado ambos.
Relatório do Banco Central apontou prejuízos de R$ R$ 8,396 milhões causados à Prefeitura de São Paulo na negociação de títulos entre 1º de dezembro de 94 e 13 de fevereiro de 96. O relatório afirma que "a análise do fluxo das transações evidencia a existência de esquema de desvio de recursos públicos". Ramos era o coordenador da Dívida Pública e ao menos uma dessas operações tem ordem assinada por Celso Pitta.
Além das operações consideradas lesivas pelo BC, a origem dos títulos pode ser irregular. O Tribunal de Contas do Município de São Paulo constatou que em 95 a Prefeitura emitiu R$ 947 milhões para pagar precatórios, mas apenas R$ 147 milhões tiveram de fato essa destinação. O uso desses recursos para outros fins é inconstitucional.
A demissão de Wagner Ramos, ocorrida ontem, reacende as suspeitas sobre operações financeiras realizadas nos últimos anos da gestão de Paulo Maluf. Cresce a cada dia a responsabilidade do Senado e do BC nas investigações sobre prefeituras e Estados envolvidos. E o único desfecho aceitável é chegar aos responsáveis maiores, sejam eles quem forem.

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