São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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Torcida não ganha jogo

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Como sabe qualquer cidadão interessado em futebol, a animação da torcida não é suficiente para ganhar um jogo. Que ajuda, ajuda, mas não basta.
Assim é que, embora sejam importantes todas as manifestações populares de apoio à candidatura do Rio a sede da Olimpíada de 2004, de nada adiantará se o "time" não "jogar bem".
E o que significa isso? Significa que a cidade precisa ter condições de fato de corrigir as deficiências apontadas no relatório do Comitê Olímpico Internacional.
Não ouvi até hoje nenhum argumento contra a realização das Olimpíadas no Rio que me convencesse.
Seria o máximo uma Olimpíada no Rio, no Brasil. Bom para o esporte, para a imagem do país, para a economia e sobretudo bom para a cidade e suas mazelas.
Mas também não adianta -como aquele torcedor fanático que não aceita ver defeitos óbvios de seu time- dizer que o relatório não é tão ruim assim, que o Rio já está capacitado para os jogos etc.
Assim como não pode o pessoal mais radical na defesa do Rio usar como argumento o que é apenas promessa do poder público.
Exemplo 1: despoluição da baía da Guanabara. Não há um técnico de bom senso, honesto e descomprometido politicamente que acredite que as águas que separam Rio de Niterói estarão cristalinas até 2004.
Exemplo 2: infra-estrutura de telecomunicações. A Telerj recebeu quase R$ 1 bilhão no ano passado e os telefones não funcionam. A empresa é historicamente ineficiente e está sucateada. Em seis anos se resolve tudo?
Há mais exemplos. Como a viabilidade de se pôr fim às chacinas e ao tráfico, ou a possibilidade de o transporte urbano vir a funcionar bem um dia, já que nunca funcionou.
Tudo isso, como se sabe, depende de políticos, governos.
Portanto, há que se torcer sim, mas com os pés bem plantados na realidade.

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