São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997
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Balanço da Cofap decepciona analistas

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um fax "curto e grosso", disparado na tarde de sexta-feira a milhares de investidores internacionais pelo banco Deutsche Morgan Grenfell, deu o tom da reação do mercado acionário à expressiva alta das ações da Cofap nas últimas semanas.
Quatro letrinhas -H, O, L e D- indicaram a mudança na recomendação da instituição sobre os papéis da Cofap, maior indústria de autopeças da América Latina. "Hold", no jargão britânico das Bolsas, quer dizer "não compre, não venda, espere um pouco mais". Até quinta-feira, o conselho do banco era "buy" (compre).
O rebaixamento de Cofap pelo Deustch Morgan Grenfell foi justificado pela analista Raquel Abud. O preço das ações, avisou, estão se aproximando da valorização máxima prevista por ela.
Neste ano, segundo a Economática, Cofap PN já subiu 46,25%, muito acima dos 25,4% alcançados pelo índice da Bolsa de Valores de São Paulo. Até o final de dezembro, o papel teria um potencial de ganho de mais 15%, previu Abud.
Ela não foi a única a recomendar cautela com as ações da empresa de Abraham Kasinski e família. Engrossaram o coro do "hold" os analistas Luís Fernando Oliveira, do Unibanco, e Márcia Alencar Garcez, do Bozano, Simonsen. Para ambos, a escalada da ação é preocupante -tudo o que sobe demais pode empacar ou, pior, cair-, mas não é o único sinal negativo para os investidores.
Balanço
O balanço da Cofap, divulgado na sexta-feira, também desanimou os analistas que acompanham a empresa. A Cofap fechou 96 com vendas de R$ 605 milhões após os impostos (receita operacional líquida), valor 14% superior ao de 95. O lucro líquido foi de R$ 18 milhões, revertendo prejuízos de R$ 17 milhões no ano anterior. Os números são consolidados, isto é, incluem a controladora e suas participações em outras empresas.
"O resultado da empresa no quarto trimestre do ano passado foi muito fraco. Além disso, boa parte do lucro foi obtida com receitas excepcionais, como recuperação de impostos e a venda de uma participação de 26% numa empresa na Argentina, a Fric Rot", comentou Oliveira.
Nas contas do analista, o lucro de R$ 18 milhões transforma-se num prejuízo de R$ 4,7 milhões se forem descontados todos os fatores extemporâneos. Garcez, do Bozano, Simonsen, concorda que o resultado foi inflado. Ainda que legítimo, esse tipo de ganho contábil é visto com desconfiança pelos especialistas, já que não irá se repetir nos anos seguintes.
Multa
Más notícias no front da Metal Leve, onde a Cofap detém participação de 33% do capital, também afetaram o desempenho da empresa. Estima-se que a Metal Leve tenha prejuízo de R$ 33 milhões em 96.
Na quinta-feira passada, a Metal Leve e sua controladora, a alemã Mahle, foram condenadas a pagar uma multa de US$ 5 milhões nos Estados Unidos, por decisão do Federal Trade Commission, órgão federal de defesa da concorrência.
O "Cade" norte-americano não gostou da decisão das duas empresas de se fundirem sem avisá-lo com antecedência, pois o negócio poderia provocar monopolização nas vendas de pistões para motores diesel. Além de aplicar a multa, o FTC fechou um acordo que prevê a venda da Metal Leve Inc., subsidiária da empresa nos EUA.
A sociedade da Cofap com a Mahle na Metal Leve é vista como um importante passo da empresa de Kasinski no sentido de globalizar suas operações. No futuro, as três companhias deverão juntar-se numa nova empresa no Brasil.

E-mail: papeis@uol.com.br

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