São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Hotel abriga observadores por natureza

Caiman é confortável

SILVIO CIOFFI
DO ENVIADO ESPECIAL AO PANTANAL

A sensação de estar no Refúgio Ecológico Caiman é comparável à que se tem nos safáris sul-africanos de Sabi-Sabi e Mala Mala.
Localizado 236 km a oeste de Campo Grande (MS), entre os rios Miranda e Aquidauana, o local tem área de 53 mil hectares.
É rústico, mas confortável, ideal para descansar ou observar a natureza -o que, aqui como na África, exige cuidados e dá trabalho.
Na verdade, a Caiman tem vários tipos de acomodação. A pousada-matriz é a sede da antiga estância, com 11 apartamentos. Já a Baiazinha, construção sobre pilares e à beira de uma baía, tem seis quartos com terraço privativo. As pousadas Piúva e Cordilheira também têm seis apartamentos cada.
Um sino acorda os hóspedes quando o dia amanhece, às 6h15. Depois disso, é tempo de fazer passeios a pé, de barco ou cavalo, e de, aqui como na África, estar preparado para um safári sem armas.
As paisagens variam: existem trechos de cerrado, outros de planícies, todos explorados com a ajuda de guias bilíngues e com formação superior -muitos deles graduados em biologia pela USP.
Existem basicamente duas estações do ano no Pantanal, a da cheia e a da seca, estações que definem o panorama da maior planície alagável da América.
Jacarés, sucuris, capivaras, veados e tamanduás, além de uma infinidade de pássaros que têm no Pantanal sua rota migratória, são sempre vistos, seja agora, na época das cheias, seja na época das secas.
Mas, se os safáris sul-africanos se esmeram em mostrar ao turista os chamados "cinco grandes" (rinoceronte, leão, leopardo, búfalo e elefante), o que as expedições no Pantanal primam por revelar é a enorme variedade de pássaros, se bem que existem na região cerca de 80 espécies de mamíferos.
"Birdwatchers"
Essa vocação tem trazido à região ornitólogos estrangeiros, os "birdwatchers" (observadores de pássaros), que têm muitos adeptos entre europeus e japoneses.
Aves longilíneas e de longas pernas, como o enorme tuiuiú, a maior cegonha do mundo, cafezinhos, garças e colhereiros, além de martins-pescadores, araras-azuis (a maior arara do mundo, ameaçada de extinção) e uma infinidade de cardeais estão na mira das lentes desses viajantes.
Se na seca, que vai em geral de junho a outubro, o espetáculo fica por conta dos ipês-rosas floridos e dos pássaros que disputam os peixes presos nas poças, na época da cheia, que dura de novembro a abril ou maio, a comida é tão farta que a vida pantaneira transborda.
Durante o pôr-do-sol, que nesta época acontece por volta das 20h, bandos de pássaros sobrevoam as baías -lagoas temporárias ou permanentes de água doce- e as salinas -lagoas salobras com pequenas praias de areia onde a vegetação não cresce.
Além das revoadas de aves, outro atrativo são os bandos de até vinte capivaras, os maiores roedores do mundo, que atravessam a nado e em fila indiana as áreas alagadas.
As comitivas de gado podem fazer parte do programa e aí dá para sentir como vivem os peões boiadeiros -a Caiman tem cerca de 30 mil cabeças de gado.
Exímios conhecedores da natureza local, eles cavalgam e lidam com o gado com a mesma maestria com que navegam em canoas por entre os corixos ou trabalham o couro fazendo tralha de montaria.
Mas, também aqui, há a mística de ver alguns dos maiores felinos brasileiros, as raras onça-parda e onça-pintada. É provável que esses animais não apareçam no seu safári. Mas, nem por isso você vai deixar de encontrar diversão e de aprender sobre o Pantanal, que, no Brasil, ocupa cerca de 600 km, no sentido norte-sul, e até 250 km, de leste a oeste.

Texto Anterior: Pantanal é região selvagem e inusitada
Próximo Texto: Conheça alguns dos animais do Pantanal mato-grossense
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.