São Paulo, terça-feira, 4 de março de 1997
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Periferia de São Paulo mata mais que Cáli

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

Os índices de violência de pelo menos quatro bairros da periferia de São Paulo superam os de Cáli (Colômbia), uma das cidades mais violentas do mundo, segundo pesquisa divulgada no Seminário sobre Violência Criminal Urbana promovido pelo governo do Estado do Rio e pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Segundo o estudo, apresentado pela médica Aylene Bousquat, do Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea), em 1993, Cáli teve 87 homicídios para cada 100 mil habitantes. A cidade é conhecida como um dos centros do narcotráfico internacional.
Em São Paulo, em 1995, aconteceram 111,52 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes no Jardim Ângela, 101,68 em Grajaú, 96,80 em Parelheiros (todos na zona sul), 88,83 em Cidade Tiradentes (por 100 mil) (zona leste).
O índice geral de homicídios para a cidade de São Paulo, em 1995, foi bem menor que o de sua periferia: 42,59 assassinatos para cada 100 mil habitantes/ano.
"As cidades brasileiras são marcadas por profunda segregação social", afirmou a pesquisadora. "Elas cresceram e com elas suas periferias e favelas."
Baixa criminalidade
No outro extremo, estão áreas com números dignos de países do Primeiro Mundo: Perdizes (zona oeste) teve, em 1995, 2,65 homicídios para cada 100 mil habitantes e Vila Mariana, 11,58 (zona sul). A pesquisa abordou os 96 distritos da cidade de São Paulo, segundo divisão fixada por lei em 1992.
A pesquisa, feita a pedido do Ministério da Justiça, comparou ainda a criminalidade com os recursos que o Poder Público emprega nas oito seccionais policiais da capital paulista, concluindo que nas três áreas com maior número de assassinatos -Itaquera, Guaianazes e Santo Amaro- há menos policiais e veículos que nas outras.
Em Santo Amaro, onde há a maior taxa de homicídios na faixa de 20 a 24 anos (175,4 por 100 mil habitantes/ano), havia, em 1995, sete policiais e 1,1 carro policial para cada 10 mil habitantes. Números parecidos com os de Itaquera (8 e 1 veículo) e Guaianazes (7 e 1,2, respectivamente).
Esses índices estão abaixo das médias do município de São Paulo (12 policiais e 1,5 veículo por cada 10 mil habitantes) e também dos números das seccionais: Sudeste (17 policiais e 1,3 veículo), Centro (40 e 4,2 carros), Oeste (13 e 1,7), Penha (11 e 1,9) e Norte (10 e 1,4).
"As regiões com maiores distâncias são as que têm menos carros de polícia", afirmou Aylene.
Notas socioeconômicas
O mapa da violência também cruzou os índices de criminalidade com as "notas socioeconômicas", quantificação do padrão de vida de cada bairro: de zero a dez, quanto maior a nota, maior o conforto e a renda de seus habitantes.
Os bairros mais violentos foram aqueles com menores notas: Marsilac (0,87), Iguatemi (1,57), Anhanguera (1,61), Parelheiros (1,97) e Jardim Ângela (2,02).
Na outra ponta, estão Jardim Paulista (8,44), Moema (7,92), Alto de Pinheiros (7,2), Pinheiros (7,1) e Perdizes (7), onde os crimes mais comuns são os contra a propriedade: furtos e roubos.

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