São Paulo, quarta-feira, 5 de março de 1997
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Dívida paga em 87 justificou R$ 350 mi em títulos de PE

Governo diz que caso pode originar outras ações iguais

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Um precatório (dívida originada por sentença judicial) pago há dez anos serviu como base para que o governo de Pernambuco emitisse R$ 350 milhões dos R$ 480 milhões em títulos públicos em 1996.
O débito, em nome do funcionário público Anésio Batista de Mota e outros, foi quitado em 1987, dois anos após a morte de Mota, disse a viúva do servidor, Alzira Soares. A dívida, revela lista do Tribunal de Justiça de Pernambuco fornecida ontem pela Secretaria de Fazenda do Estado, era originalmente de Cr$ 811,5 milhões.
Segundo o secretário-adjunto de Fazenda de Pernambuco, José Carlos Lapenda, os cálculos que resultaram no débito de R$ 350 milhões "estão corretos".
A atualização, afirmou, foi feita com base no "potencial da dívida" -o que o Estado eventualmente poderá ser obrigado a pagar, caso haja reclamações judiciais com ganho de causa para o reclamante.
Para Lapenda, o fato de o funcionário público já ter morrido não significa que outras pessoas possam vir a reclamar o dinheiro.
Banco Vetor
Segundo ele, a fórmula para calcular a dívida foi elaborada, executada e entregue ao governo do Estado pelo Banco Vetor, antes mesmo de a instituição ser contratada para a emissão dos títulos.
O banco foi contratado para atualizar o valor da dívida de Anésio Batista de Mota e das outras dívidas judiciais pendentes.
O banco, afirmou o secretário-adjunto, realizou o serviço "informalmente" e nada cobrou por ele. O Vetor foi contratado, sem concorrência, em junho de 96.
Para calcular a "dívida potencial", o banco utilizou como base os precatórios decorrentes de ações impetradas até outubro de 88. As listas com os valores originais foram fornecidas pelo Tribunal de Justiça e pelo Tribunal Regional do Trabalho.
Os valores foram corrigidos até 31 de janeiro de 1996, com base na variação da Ufepe (Unidade Fiscal de Pernambuco) e na tabela própria do Tribunal Regional do Trabalho, afirmou Lapenda.
As duas parcelas restantes foram somadas ao valor da atualização decorrente dos planos, que, no entender do Estado, pode ser reclamado a qualquer momento. O total obtido correspondeu aos R$ 480 milhões.
Com a venda dos títulos com deságio, o governo arrecadou R$ 402 milhões, mas pagou apenas R$ 26 milhões em precatórios.
Até o final do ano passado, cerca de R$ 200 milhões já haviam sido utilizados para outros fins, como o pagamento de obras e salários.

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