São Paulo, quarta-feira, 5 de março de 1997
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'Che representa o que podemos ser'

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
DA REDAÇÃO

Não no quintal norte-americano, mas dentro de sua própria casa. Em Los Angeles, dois estudiosos da UCLA (Universidade da Califórnia) estão organizando uma série de eventos e produtos para "analisar e apresentar o modelo de ser humano que as idéias de Che propuseram, por meio do trabalho de artistas inspirados nele", diz o argentino Fabian Wagmister.
Na contramão do mercado, ele, que dirige o departamento para novas mídias da universidade, afirma que não há interesse comercial no projeto: "Estamos fazendo isso por convicção ideológica e doaremos o dinheiro que arrecadarmos para uma instituição que se dedique a estudar Che".
Wagmister e o norte-americano David Kunzle, professor de história da arte, estão organizando uma coleção de arte inspirada em Che.
A dupla planeja uma série de eventos e produtos para o ano 30 da morte de Che. Em outubro, comandam uma conferência internacional e a exposição dos mais significantes cartazes sobre Che. Wagmister prepara uma instalação multimídia. Também estão previstos um CD-ROM e mostras de filmes e vídeos.
Leia abaixo entrevista dada por Wagmister à Folha, por e-mail.
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Folha - Por que Che Guevara ainda gera tanto interesse?
Fabian Wagmister - Deixe-me explicar por que Guevara merece tanta atenção por meio de grandes nomes: "O mais importante ser humano do nosso século", Jean-Paul Sartre; "Sua vida é um brilhante exemplo para a juventude que luta e é movida pelo desejo de construir um novo mundo", Graham Greene. Além disso, acho que ele representa algo que podemos ser e o caminho para sê-lo.
Folha - Por que a revolução lhe atrai?
Wagmister - Claramente, o capitalismo é um modelo que não funciona. Há mais injustiça e desigualdade hoje do que nunca. Estou convencido de que nós somos capazes de nos transformar e mudar nosso mundo.
Folha - O que transformou Che em um produto?
Wagmister - O capitalismo digere todas as forças contra o sistema por meio da comercialização simbólica. Simbólica porque implica a simplificação e superficialização do real conteúdo dessas forças. Para a maior parte dos jovens, Che é somente uma cara num pôster.

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