São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997
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Luzes da ribalta

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos fatores distintivos que fizeram do caso O.J. Simpson o "julgamento do século" nos Estados Unidos foi a "court TV, logo seguida por CNN e grandes redes.
Foi a cobertura "ao vivo", da sala de julgamento, que tornou advogados, juiz, testemunhas em atores. Foi o primeiro julgamento de uma era televisiva, "virtual".
Pois a CPI dos Precatórios, agora, é o primeiro inquérito parlamentar da mesma era -aqui, da recém-criada TV Senado. Roberto Requião e colegas, que jamais foram comedidos na exibição pública, interpretam uma CPI.
Minutos assistindo qualquer dos célebres depoimentos, ontem e de duas semanas para cá, é o bastante para reconhecer o canastrismo.
Requião bradando, a dois metros do depoente, mas bem consciente dos closes:
- O senhor Henrique Piccioto incorreu, sem a menor sombra de dúvida, no delito do falso testemunho!
"Sem a menor sombra de dúvida" se baseava no testemunho contraditório de poucas horas antes, feito por um funcionário demitido pelo mesmo Henrique Piccioto. Nas palavras retumbantes do ator de feira Requião:
- Teve o seu depoimento absoluta e completamente desmoralizado pelo depoimento do seu office-boy!
Até chegar ao apogeu:
- O verdadeiro proprietário, manipulador da IBF, sem a menor sombra de dúvida, é o senhor Henrique Piccioto!
Um ator, canastrão ou não, mas sobretudo um ator com imunidade parlamentar. Acusa e não precisa demonstrar -como os advogados de Simpson, ao levantar em cena a "carta racial", que dividiu ainda mais os americanos.
Aqui como lá, o que começou na televisão a cabo, tediosamente, vai ganhando as redes. A Globo News faz aqui as vezes da CNN e ontem até a tão comedida Cultura entrou "ao vivo". Com imagens cedidas pela TV Senado.

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