São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997
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9 entre 10 se negam a doar órgãos no PA

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

A tentativa do governo de transformar os cidadãos em doadores de órgãos ou tecidos fracassou ontem, primeiro dia de validade da medida em Belém (PA).
Segundo o Instituto de Identificação da Secretaria Estadual da Segurança, cerca de 90% das pessoas que expediram suas carteiras de identidade exigiram a impressão da frase "não doador de órgãos ou tecidos".
A partir de agora, as carteiras de identidade expedidas informarão se a pessoa é ou não doadora de órgãos para transplante. Em breve, o Detran do Pará começa a também a expedir carteiras de motorista com a informação.
Cerca de 800 pessoas por dia expedem a identidade nos seis postos do instituto em Belém.
Ontem, apenas uma em cada dez pessoas que tiraram a carteira de identidade não exigiu a inscrição da frase.
Foi o caso do menor Édson Luiz Alves Monteiro, 11, que tirou a carteira acompanhado do pai, o motorista Luiz Carlos Monteiro. Para os menores de 18 anos, a opção deve ser autorizada pelo adulto responsável.
"A opção de se tornar doador foi dele. Vim junto para autorizar", afirmou o pai. "Falta ainda muita informação. As pessoas são avisadas na fila, de surpresa. Com medo, dizem não."
O motorista declarou que também será doador, mantendo seus documentos como estão.
Pela nova lei, quem não quer ser doador deve tirar uma segunda via do documento, contendo a frase restritiva.
Essa providência será tomada pelo pintor Antônio Jorge Melo, que tirava a identidade do filho Fabrício de Melo, 13, com o aviso "não doador". "Amanhã (hoje), volto para fazer minha segunda via e a da minha mulher, todos não-doadores. Meus órgãos estão comigo e vão morrer comigo."
A maioria dos 14 entrevistados na fila não pretendia doar os órgãos e não tinha uma explicação para a opção. A resposta era sempre: "Porque não".
Desconfiado, o vigilante Gilberto Luís Correia preferiu não ser doador. "Amanhã ou depois, posso estar doente e vão querer apressar minha morte para vender meus órgãos", disse ele.
A estudante Cristiane da Silva, 17, teve de obedecer a mãe e sua carteira registrou a não-doação. "Mas, quando fizer 18, quero ser doadora", disse ela.

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