São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997 |
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Mulher
VICENTE PAULO DA SILVA; LUCI PAULINO DE AGUIAR VICENTE PAULO DA SILVALUCI PAULINO DE AGUIAR Hoje, véspera do Dia Internacional da Mulher, nos dirigimos de forma especial a uma parcela da sociedade que vem conquistando, à custa de muita luta e insistência, uma grande visibilidade social. Falamos, é claro, dos 51% da nossa população, das mulheres que habitam o nosso país. São elas as Marias, as Anitas, Olgas, Margaridas, Cristinas, Deolindas e tantas outras -crianças, jovens, adultas e idosas-, que, no cotidiano da vida, gritam e lutam pelas igrejas, sindicatos, casas, partidos e tantos outros espaços sociais. Gritam contra a violência doméstica e das ruas, que infelizmente atinge grande parte das mulheres brasileiras. Gritam contra o assédio sexual, que é invisível aos olhos da nossa sociedade e ignorado pelo Poder Judiciário, mas que é sentido por elas, na pele, no dia-a-dia. Gritam contra a exigência da chamada "boa aparência", que limita o acesso das mulheres negras e de menor poder aquisitivo a diversos espaços sociais e mesmo ao mercado de trabalho. Em 1995, mulheres do mundo todo, reunidas em Pequim (China), realizaram a 4ª Conferência Mundial da Mulher, onde demonstraram sua garra e disposição de luta e reafirmaram o propósito de avançar cada vez mais na ocupação dos espaços que lhe são de direito. Foi ainda resolução dessa conferência exigir dos governos, inclusive o do Brasil, o reconhecimento da necessidade da implantação da plataforma de ação aprovada, visando a superação das desigualdades entre homens e mulheres. No mercado formal de trabalho brasileiro, atualmente, cerca de 40% da PEA (População Economicamente Ativa) é composta pela mão-de-obra feminina; sem falar no setor informal (sem registro em carteira), em que atua grande parcela de trabalhadoras -como, por exemplo, costureiras, doceiras, pesquisadoras, vendedoras ambulantes etc. A inserção dessa mão-de-obra no mercado de trabalho é ainda bastante precária. Dados da ONU (Organização das Nações Unidas) apontam que, no Brasil, as mulheres ganham 53% menos que os homens. As trabalhadoras enfrentam ainda dificuldades no acesso a qualificação e formação profissional. No momento da seleção, diversas vezes passam por humilhações -como, por exemplo, a exigência ilegal de atestado de esterilização e/ou teste de gravidez. Em função da ausência de políticas sociais, que de fato ofereçam o pleno acesso aos serviços de saúde, educação e creches, as mulheres são vítimas de abortos clandestinos, feitos em péssimas condições, o que se constitui a quarta causa de mortalidade de mulheres no Brasil. A nossa Central, a CUT, preocupada com todas as dificuldades que essa importante parcela da classe trabalhadora enfrenta, lançou em setembro de 1995 a campanha: "Cidadania, igualdade de oportunidades, na vida, no trabalho e no movimento sindical". Com essa campanha visamos sensibilizar a sociedade e o movimento sindical para a importância da incorporação das demandas femininas nos diversos espaços públicos. E, nas próximas semanas, realizaremos uma conferência para tratar, exclusivamente, dos problemas enfrentados pelas mulheres trabalhadoras. E é justamente no sentido de fortalecer a luta das mulheres por uma sociedade mais justa e com igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, que neste 8 de março vamos realizar uma grande atividade unificada das centrais sindicais (Central Única dos Trabalhadores, Força Sindical e Confederação Geral dos Trabalhadores), no Ceret do Tatuapé, com mesas de debate, ato público e show. A conquista da cidadania passa pela conquista de direitos iguais entre homens e mulheres. Vicente Paulo da Silva, 40, é presidente nacional da CUT e do Inspir (Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial). Luci Paulino de Aguiar, 34, é diretora executiva da CUT Nacional e Coordenadora da Comissão Nacional de Mulheres da CUT. Texto Anterior: A reforma da previdência (na Grã-Bretanha) Próximo Texto: Ford investe US$ 1 bi na Argentina Índice |
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