São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Seu Vado' expõe suas relíquias

FERNANDO DE BARROS E SILVA
DO ENVIADO ESPECIAL A BAURU

"Aqui tem muita coisa boa, tem essas relíquias, esses livros, essa máquina de escrever, esse telefone chinês... só não tem o principal, mas isso não tem jeito, isso o destino quis assim".
É assim que Oswaldo Rasi, o "seu Vado", 79 completados no mês passado, mostra a sua casa no centro de Bauru ao mesmo tempo em que lamenta a ausência da mulher, Pérola, morta há três anos, "nos meus braços", como ele diz.
Ambos viveram juntos por 55 anos. Sem a mulher, diz Vado, "a vida perdeu o sentido".
Na parte da frente, funciona hoje a agência de turismo Fellow Tour, administrada pelo cunhado de Mauro Rasi, Danilo, um dos personagens de "Pérola".
O bar da casa que, junto com a piscina construída no fundo do quintal, sempre foi o xodó do casal, continua lá, exibindo as pingas caseiras de catuaba, de bala de hortelã, de figo, de amora.
A chegada de "Pérola" a Bauru reanimou Vado, que, aposentado, perambula a esmo pela cidade. Foi por causa da peça que ele mandou pintar com cores vivas, verde e laranja, o piso em volta da piscina.
Animado com o movimento dos jornalistas no seu quintal, ele convida a todos: "se vocês quiserem nadar, tem muito maiô por aí".
Foi na parede ao fundo da piscina que Pérola pendurou a tabuleta que ganhou de Vado em um dos aniversários de casamento do casal: "Se o destino te der um limão, faça uma caipirinha". Hoje a tabuleta sumiu. Vado não lembra como. Acha que deu "para algum jornalista fazer uma reportagem".
Coube a Mauro Rasi recuperar a relíquia sentimental da família, mas através do teatro. No dia em que sua mãe morreu, ele foi para a beira da piscina.
A cena, nas suas palavras, foi assim: "Fui sozinho para lá e acendi a luz. Tinha chovido. O céu do interior é muito forte, muito especial. Foi me dando uma melancolia, mas junto com um prazer. Olhei para a piscina e vi as estrelas refletidas na água. Olhei então para a parede e vi a tabuleta. Comecei a escrever 'Pérola' naquele instante".
(FBS)

Texto Anterior: Mauro Rasi ressuscita 'Pérola' em Bauru
Próximo Texto: Autor escreveu peça aos 13 anos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.