São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997
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Bob Rafelson retoma tema familiar em "Sangue e Vinho"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

"Sangue e Vinho" entra nos cinemas como uma espécie de outsider: é americano e não concorre ao Oscar, traz atores famosos pela competência, mas cujos nomes não garantem sucesso.
É assinado por Bob Rafelson, um diretor digno e irregular, capaz de oscilar do brilho de "O Destino Bate à Sua Porta" (1981) à chochice de "O Mistério da Viúva Negra" (1987).
Rafelson resgata aqui um projeto de sua primeira fase. Remonta à sua primeira fase, de filmes como "Cada um Vive como Quer" (1970). Trata-se de um retorno, portanto, à temática da disfunção familiar nos EUA.
Jack Nicholson (Alex) faz em princípio um homem comum que uma série de fatores leva a descambar para uma trama sinistra, cujo objetivo é roubar um colar e sumir do mapa em companhia da amante (Jennifer Lopez), deixando para trás a mulher (Judy Davis) e o enteado (Stephen Dorff). Seu sócio na operação é Michael Caine, velho bandido, hoje na condicional.
Estamos num terreno bem explorado pelos filmes contemporâneos, o do acaso, dos desencontros, do absurdo que norteia as relações pessoais e que determina desdobramentos sinistros.
É algo que "Fargo" -o filme de Joel Coen que concorre ao Oscar- também explora. Mas, ao contrário de "Fargo", "Sangue e Vinho" evita seduzir por achados narrativos, ou diluindo a trama no interior desses acasos.
Rafelson faz um filme de narrativa clássica com violência contemporânea. Mas mesmo a violência distingue-se da de um Tarantino, por exemplo, em que predomina a busca de soluções originais.
Como que para confirmar o caráter um pouco às antigas de "Sangue e Vinho", o roteiro tem um quê daqueles filmes de John Huston, em que todos procuram se apoderar de uma fortuna que teima em lhes escapar.
Falta a "Sangue e Vinho" inventividade, algo que o distinga decisivamente de outros filmes já feitos (a começar por "O Destino Bate à Sua Porta"). Falta também um tanto do vigor e da vontade que caracterizavam "O Destino".
Com isso, o suporte do filme acaba sendo o elenco estelar e que comparece. Jack Nicholson, Judy Davis e Michael Caine estão muito bem. Os mais novos, Jennifer Lopez e Stephen Dorff, também dão conta do recado.
Como Bob Rafelson tem fôlego para fazer algo mais do que bons veículos para estrelas, "Sangue e Vinho" fica um pouco no meio termo. É um filme cujas maiores virtudes são negativas: não engana ninguém, não é incompetente.

Filme: Sangue e Vinho
Produção: EUA, 1996
Direção: Bob Rafelson
Com: Jack Nicholson, Michael Caine
Quando: Olido 1, West Plaza 3, Belas Artes - sala Oscar Niemeyer e circuito

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