São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Guerrilha suspende negociações no Peru

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os guerrilheiros que mantêm 72 reféns na casa do embaixador japonês em Lima denunciaram ontem que a polícia está cavando um túnel para tentar uma operação de resgate. As negociações com o governo peruano foram suspensas.
A denúncia foi feita pelo líder dos guerrilheiros do MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru), Nestor Cerpa Cartolini, em comunicação por rádio com uma emissora de TV.
Ele afirmou que na noite de anteontem foram ouvidos ruídos sob o chão da casa, supostamente dos trabalhos de escavação do túnel.
Cerpa disse que os reféns foram acordados e também escutaram o barulho. Segundo ele, ruídos vêm sendo ouvidos há três dias.
O líder guerrilheiro afirmou que, por causa do suposto túnel, ele não comparecerá à reunião com o negociador do governo, Domingo Palermo, marcada para hoje.
"Não vamos às conversações porque não cremos que seja correto que por um lado se fale em diálogo e, por outro lado, ocorram esse tipo de manobras", disse Cerpa.
"De repente, estão esperando que saiamos e neste momento podem iniciar um ataque interno, aproveitando nossa ausência", afirmou.
Depois da denúncia do líder guerrilheiro, a comissão que intermedeia as negociações entre guerrilha e governo peruano foi para a casa ocupada.
Segundo Cerpa, o grupo comprovou a denúncia do MRTA.
A comissão é formada pelo embaixador do Canadá no Peru, Anthony Vincent, pelo arcebispo Juan Luis Cipriani e pelo representante da Cruz Vermelha INternacional, Michel Minnig.
Tensão
O coronel da polícia peruana Fernán Zapata afirmou a jornalistas que o suposto túnel é uma invenção dos guerrilheiros.
"Isso do túnel é um blefe", disse Zapata, que faz o contato entre a polícia e os jornalistas que cobrem a crise de reféns em Lima.
Logo após a declaração de Cerpa, dois helicópteros da polícia peruana começaram a sobrevoar o local do sequestro, aumentando o clima de tensão na casa.
Esse tipo de operação não ocorria havia 15 dias.
A polícia, que cerca a área, proibiu o acesso de jornalistas a uma rua próxima da residência.
Segundo a agência de notícias "France Presse", um grupo de operários realiza escavações há vários dias no local.
Negociações
O diálogo marcado para hoje seria o décimo encontro entre representantes do Tupac Amaru e do governo peruano.
Acredita-se que a proposta do governo seria a de permitir que os cerca de 20 guerrilheiros obtenham asilo em Cuba, com a garantia de que não será solicitada sua extradição. Também se fala em algum tipo de anistia.
O presidente do Peru, Alberto Fujimori, esteve em Havana no início da semana. Ele recebeu do presidente de Cuba, Fidel Castro, o compromisso de receber os guerrilheiros.
A hipótese de asilo, porém, tem sido sucessivamente rejeitada pelo MRTA. Os guerrilheiros exigem a libertação de mais de 400 militantes do grupo que estão detidos em prisões de segurança máxima.
O governo peruano descarta qualquer libertação.
A casa do embaixador do Japão em Lima, Morihisa Aoki, foi tomada em 17 de dezembro durante festa com cerca de 500 convidados.
Entre os reféns estão diplomatas, entre eles o chanceler do Peru, Francisco Tudela, e o embaixador da Bolívia em Lima, autoridades peruanas, o irmão do presidente, Pedro Fujimori, além de empresários japoneses.

Texto Anterior: Israel decide entregar mais território aos palestinos
Próximo Texto: Sai hoje decisão sobre lei que proíbe clone humano no Brasil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.