São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997
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Austeros ou otários?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Se o sistema político brasileiro tivesse alguma racionalidade, o escândalo dos títulos públicos só poderia ter um de dois desfechos: ou o afastamento do governador de Santa Catarina, por violação de dispositivo constitucional, ou o impeachment, por burrice, de todos os governadores que não entraram nesse jogo.
É a conclusão inescapável a que se chega depois de ouvir o governador Paulo Afonso Vieira (PMDB-SC) afirmar, com a maior cara-de-pau, que usou, sim, para outras finalidade o dinheiro destinado a pagar precatórios (dívidas do Estado com sentenças judiciais definitivas). Foi anteontem, na Globo News, o canal de notícias da Globo na TV paga.
"É crime de responsabilidade", grita o senador Roberto Requião (PMDB-PR), relator da CPI dos títulos públicos. Crime de responsabilidade se pune com o impeachment.
Equivale, também, a instalar uma Casa da Moeda paralela no quintal do palácio do governo. Não imprime notas de real, mas emite títulos que viram reais, claro que depois de irrigar as contas bancárias de um punhado de atravessadores.
Ou seja, se o governo não tem dinheiro para tocar obras, inventa dinheiro por meio do artifício da emissão de títulos para pagar dívidas.
Enquanto isso, um punhado de governadores está comendo o pão que o diabo amassou porque, em vez de acionar uma Casa da Moeda paralela, resolveu tentar pôr ordem na casa, cortando gastos, dispensando funcionários e, claro, não investindo um centavo, já que não havia.
O que ganharam tais governadores, dos quais os casos talvez mais notórios sejam os de Mário Covas (PSDB-SP) e Vítor Buaiz (PT-ES)? Na melhor das hipóteses, o qualificativo de austeros, que, para homens públicos, é apenas meio elogio. Agora, se o esquema Paulo Afonso passar incólume, em vez de austeros tais governadores merecerão o título de otários, burros, cretinos ou algum outro equivalente.

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