São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 1997
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Pitta sabia de operação de PE, diz Nahoum

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de receber proposta do Banco Vetor para emitir títulos públicos, no final de 1995, representantes do governo pernambucano se reuniram com o então secretário das Finanças da Prefeitura de São Paulo, Celso Pitta, em busca de informações.
O fato foi revelado por Fábio Nahoum, um dos donos do Banco Vetor, que depôs ontem à CPI dos Precatórios, no Senado.
"Eles queriam saber se a nossa proposta tinha procedência", disse Nahoum, em referência ao então secretário da Fazenda de Pernambuco, Pedro Eugênio, e a Eduardo Campos, neto do governador Miguel Arraes e atual secretário.
Os dois teriam se reunido com Pitta, na época superior hierárquico de Wagner Ramos, então coordenador da Dívida Pública do município. Ramos é apontado como mentor do esquema irregular de comercialização de títulos de Estados e municípios.
Em entrevista à Folha na última segunda-feira, Ramos disse que Pitta não tinha conhecimento de operações com Estados.
A Folha não conseguiu localizar o prefeito de São Paulo até as 20h30 de ontem.
No depoimento, Nahoum reconheceu que a instituição não detinha conhecimentos sobre precatórios (dívidas judiciais) quando se ofereceu para fazer a emissão de títulos de Pernambuco.
Na mesma época, porém, Ramos fez uma declaração escrita afirmando que o Vetor detinha "ampla experiência e notório saber" sobre as negociações.
A declaração foi anexada à proposta feita ao governo pernambucano e ajudou o banco a fechar o contrato, pelo qual ganhou R$ 22,13 milhões.
"Quero entender essa contradição. Há uma carta do senhor Wagner Ramos, dizendo que o banco tinha ampla experiência, e o senhor diz que o banco não detinha tecnologia para a operação", disse o senador Roberto Requião (PMDB-PR), relator da CPI, durante o depoimento de Nahoum.
Ele respondeu que, quando Ramos assinou a declaração, já havia um acerto verbal para que ele próprio assessorasse o banco nas operações. Na verdade, a "ampla experiência e notório saber" seriam de Ramos, não do Vetor.
"Sabíamos que Ramos havia assessorado a emissão de títulos de Alagoas e o procuramos", disse Nahoum. Segundo o empresário, somente Ramos detinha o conhecimento sobre a fórmula para calcular o total de precatórios. A Constituição só permite a emissão de títulos por Estados e municípios para pagar precatórios.
Porém, tanto Pernambuco quanto Santa Catarina -dois Estados em que o Vetor operou- emitiram títulos em valor superior ao das dívidas judiciais.
O dinheiro excedente foi aplicado em pagamento de salários e outras despesas correntes, o que contraria a Constituição.
Contradição
Nahoum afirmou que partiu do Vetor a sugestão para que Pernambuco emitisse os títulos. O contato entre o banco e o governo teria sido feito por Ronaldo Ganon, diretor da instituição.
Nesse momento, Requião procurou explorar uma suposta contradição. Segundo o relator, o secretário da Fazenda de Pernambuco, Eduardo Campos, disse que a sugestão para que o Vetor fizesse a operação partiu de Ramos.
A afirmação foi contestada por Nahoum. Segundo ele, as autoridades de Pernambuco somente teriam buscado contato com Ramos depois de procuradas pelo Vetor.

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