São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 1997
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Brasileiros preparam fuga da Albânia

JUCA VARELLA
LUCAS FIGUEIREDO

JUCA VARELLA; LUCAS FIGUEIREDO; PAULO SILVA PINTO
ENVIADOS ESPECIAIS A ROMA

Três brasileiros que vivem no país já procuraram a embaixada em Roma e devem ir para a Itália

Brasileiros que moram na Albânia estão se preparando para fugir do país por causa dos conflitos internos que já resultaram na morte de mais de 30 pessoas.
Três brasileiros comunicaram à Embaixada do Brasil na Itália, responsável também pelo serviço diplomático na Albânia, que querem deixar o país hoje.
Pelo menos 20 brasileiros moram na ex-comunista Albânia, país mais pobre da Europa que está à beira de uma guerra civil.
O diretor do Departamento Consular do Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores), em Brasília, Affonso Massot, disse ontem à Folha que o consulado em Roma "já está autorizado a se responsabilizar pelo transporte dos brasileiros entre a Albânia e a Itália".
Segundo Massot, quem não tiver dinheiro para chegar ao Brasil receberá uma passagem do governo brasileiro.
Ontem, oficialmente a Embaixada do Brasil em Roma ainda não confirmava que os brasileiros estão fugindo da Albânia, que é separada da Itália pelo mar Adriático. Afirmava apenas que está se articulando com outros governos, que têm representações diplomáticas na Albânia, para uma possível necessidade de retirada dos brasileiros.
A crise no país começou no final do ano passado, quando grande parte da população de 3,3 milhões de albaneses perdeu todas as economias com a quebra de instituições financeiras que manipulavam um esquema de investimento conhecido com "pirâmide".
O funcionamento do esquema era o seguinte: uma pessoa aplicava dinheiro e ia subindo gradativamente na pirâmide à medida que outros investidores também colocavam seus recursos na aplicação. Quanto maior o número de participantes, maior deveria ser o lucro. Ao atingir o topo, a aplicador lucrava até 100% do que havia colocado inicialmente.
Missionários e futebol
A embaixada se negou a fornecer os nomes dos 20 brasileiros que moram na capital albanesa, Tirana, e nas cidades de Korce, Lezhë, Durrës e Burrel.
Nenhuma dessas cidades está na área fora do controle do governo e onde os conflitos são mais intensos. Os albaneses culpam o presidente Sali Berisha de envolvimento com os bancos quebrados que operavam as pirâmides.
O número de brasileiros na Albânia pode ser maior, já que a Embaixada do Brasil na Itália só tem registro das pessoas que comunicaram sua ida para aquele país.
A maioria dos brasileiros na Albânia é ligada à entidade missionária Jocum (Jovens Com Uma Missão), ou são mulheres de empresários estrangeiros ou de jogadores de futebol.
'Situação feia'
"A situação na Albânia está feia. Se os brasileiros estiverem em perigo, todos serão evacuados", disse ontem o embaixador do Brasil na Itália, Paulo Pires do Rio.
O governo da Itália tem feito retiradas em massa de italianos que moravam na Albânia, e os Estados Unidos já se preparam para fazer o mesmo com os 2.000 norte-americanos no país.
O embaixador Pires do Rio disse não saber se existe algum brasileiro que entrou no esquema da pirâmide albanesa. "Isso é para pessoas incautas."

Colaborou Paulo Silva Pinto, da Sucursal de Brasília

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