São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 1997
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Braz mergulha em Nelson Rodrigues

DANIELA ROCHA
DA ENVIADA ESPECIAL

Nelson Rodrigues se utilizou de uma estrutura de comédia para fazer uma ferrenha crítica ao meio jornalístico. O título dessa comédia é "Viúva, porém Honesta".
É com a montagem desse texto, escrito pelo dramaturgo em 1957, que o diretor Marco Antonio Braz estréia hoje no Festival de Curitiba. "A comédia do Nelson sobrevive porque ele foi um grande frasista", disse Braz.
Nelson Rodrigues escreveu "Viúva" em resposta a uma crítica publicada em jornal sobre "Perdoa-me por me Traíres", sua peça anterior. A última montagem de Braz foi exatamente de "Perdoa-me".
A trama de "Viúva, porém Honesta" é complicadíssima de ser executada, segundo o diretor, por ser entremeada de flashbacks e tempos presentes.
O dr. J.B. de Albuquerque Guimarães, proprietário do jornal "A Marreta", preocupado com a filha, que, desde que ficara viúva, permanece de pé ao lado do túmulo do marido, convoca especialistas para resolverem o problema.
São Madame Cricri, dona de um bordel, um otorrino -"porque ninguém ama sem nariz, ouvido e garganta"-, um psicanalista, especialista em sexo, e o Diabo da Fonseca, homem que vivia de ser bode expiatório da sociedade.
"Ele é o único romântico e virgem, que está à espera de uma viúva diferente das outras. Uma viúva honesta", afirma Braz.
Segundo o diretor, Nelson Rodrigues desnuda com esse texto a realidade brasileira do falso patriotismo e da família. O marido morto do texto é o crítico do jornal, Dorothy Dalton -"o crítico teatral da nova geração".
O título da peça é instigante. "É um título com apelo. Até o nosso motorista quer ver a peça. 'Viúva, porém Honesta' pressupõe que o normal são viúvas não honestas", afirmou Braz.
Segundo ele, o texto mostra um lado quase infantil de Nelson Rodrigues. "É uma comédia com frescor."
Para montá-la, no entanto, Braz e seus atores colocaram no palco dois anos de pesquisa sobre o autor. "O texto exige um conhecimento da obra do Nelson." Com o background que têm eles tiveram liberdade até para levar ao palco um novo personagem: Nelson Rodrigues, o autor que atropela com uma carrocinha o crítico da nova geração.
(DR)

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