São Paulo, sábado, 15 de março de 1997
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Brasil 'clássico' vai a Veneza com Jac Leirner e Waltercio

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Fundação Bienal se adequou à tradição da centenária Bienal de Veneza e escolheu dois artistas de perfis "clássicos" para representar o país na próxima edição do evento italiano: o carioca Waltercio Caldas e a paulista Jac Leirner.
Os nomes foram anunciados ontem pelo presidente da 24ª edição da Bienal, Julio Landmann, e pelo curador do evento, Paulo Herkenhoff. A artista Jac Leirner também estava presente.
O termo "clássico" foi cunhado pelo próprio Herkenhoff. "Defini que a Bienal de Veneza seria tratada como espaço clássico para a arte contemporânea", disse.
O curador cita os nomes dos escultores Anish Kapoor e Louise Bourgeois, ambos presentes em edições anteriores de Veneza, para evidenciar este caráter clássico de Veneza.
"Jac Leirner e Waltercio Caldas têm posturas clássicas frente à tradição moderna de nosso século. Também sustentam um diálogo com a cena internacional e evidenciam a densidade histórica da arte brasileira na segunda metade do nosso século", disse Herkenhoff.
O curador citou ainda a necessidade de escolher dois artistas de duas gerações distintas que testemunharam o processo da arte contemporânea no país. Waltercio criou em 1969 seus "Condutores de Percepção", que seria um anúncio de sua proposta. Mesmo envolvida por uma cena totalmente direcionada para a pintura, Jac Leirner surge nos anos 80 como uma definição muito pessoal de projeto artístico.
"Os dois são testemunhas do processo artístico brasileiro nos últimos anos. Eles falam que este país tem um passado", disse Herkenhoff.
A Bienal de Veneza acontece entre os dias 15 de junho e 9 de novembro. A curadoria é de Germano Celant, também curador da mostra "Mapplethorpe" em cartaz no MAM-SP.
O curador italiano elegeu o tema "Futuro, Presente, Passado" para a 47ª edição do evento italiano. Celant quer mostrar uma relação dialética entre a continuidade e descontinuidade temporal nas artes e como esses fatores se alimentam constantemente no desenvolvimento da arte contemporânea.
Mas o passado ao qual Celant se refere é passado apenas em um sentido cronológico ininterrupto. Ao estabelecer como espaço temporal de trabalho o período entre 1967 e 1997, o curador legisla com conhecimento de causa.
A data inicial marca os primórdios do movimento "arte povera", do qual Celant foi e é o mais importante teórico e que serviu como estopim para várias das vanguardas desta segunda metade de século.
A questão do tempo, aliás, do pouco tempo, foi também responsável pela escolha dos artistas. É que a Bienal de Veneza sofreu problemas em sua organização e quase foi adiada para o ano que vem. Voltaram atrás e as representações nacionais tiveram que correr.
A Fundação Bienal é responsável pela indicação dos artistas brasileiras em eventos internacionais, como a Bienal de Cuenca, no Equador, e pelo assessoramento de outros, como a Bienal de Istambul, na Turquia.
Para a edição anterior de Veneza, a Fundação Bienal selecionou Arthur Bispo do Rosário e Nuno Ramos. O Brasil tem o costume de selecionar dois artistas devido à arquitetura de seu pavilhão em Veneza, que não comporta mais artistas.

LEIA MAIS sobre a Bienal de Veneza à pág. 5-3

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