São Paulo, sábado, 15 de março de 1997
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Canal Plus revigora cinema francês

Emissora estuda entrar no Brasil

LEON CAKOFF
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Pierre Lescure agiu discretamente na passagem da delegação francesa do presidente Jacques Chirac por São Paulo.
Lescure é o presidente da poderosa Canal Plus (ou Canal +), a rede de TV paga que soma mais de 8 milhões de assinantes por 11 países europeus -mais de 4 milhões só na França, onde nasceu no começo do governo socialista de François Mitterand.
Sem o Canal Plus, o cinema francês não existiria mais. Graças a uma legislação que estabelece um mínimo de 20% das taxas dos assinantes para a produção cinematográfica, o canal revigorou o cinema francês nos últimos dez anos.
Hoje é difícil não ver a marca de Pierre Lescure nas fichas técnicas dos filmes franceses, espanhóis e italianos.
"Estamos presentes em 120 de 140 filmes de longa-metragem na França", disse Lescure, com orgulho, durante almoço na última quinta com o presidente Chirac, no hotel Sheraton Monfarrej.
Além de conseguir dinheiro para produzir filmes e garantir a exclusividade de exibi-los depois para os seus assinantes, o Canal Plus escolhe anualmente 20 filmes com maior potencial comercial para produzi-los quase integralmente. A emissora garante também o direito de comercialização e venda internacional sobre esses filmes.
"Os Ladrões", de André Techiné, e "Ponette", de Jacques Doillon, são filmes recentes integralmente produzidos pela TV paga.
Acaso
"O nosso crescimento foi por acaso", diz Lescure. "O governo socialista tinha uma preocupação acentuada em proteger o cinema e respeitar hábitos consagrados de seus espectadores."
"A permissão do Canal Plus veio com uma estrita observância de que fosse ao ar com duas janelas gratuitas de transmissão, possíveis de se assistir sem ser assinante: nas horas do almoço e do jantar. A concessão acabou sendo a nossa melhor propaganda."
Lescure não pensa trazer a experiência do Canal Plus para o Brasil. "Estudamos negociar com a TVA e Globosat os direitos de transmissão dos segmentos especializados do Canal Plus, de filmes clássicos a programas especializados para as mais variadas audiências."
"Não podemos repetir a fórmula do Canal Plus no Brasil -metade filmes e outra metade com esportes e produções de variedades- porque canais assim já existem para os assinantes brasileiros de TV paga."
"Nós também investimos no mercado futuro", diz Lescure, com ironia.
"Além dos longas, o Canal Plus garante a vez do cinema experimental, de animação e de todo um leque de talentos emergentes, participando diretamente da produção de 120 curtas por ano."
"Imagine com que ritmo dinâmico trabalhamos para operar toda a demanda de projetos querendo ser realizados", acrescentou.
O presidente do Canal Plus deixa um exemplo de dinamismo empresarial e criatividade. Um exemplo de fazer vergonha ao mercado cinematográfico brasileiro.
O país até hoje não conseguiu emplacar uma legislação que obrigue as emissoras a destinar uma parcela, por menor que seja, do faturamento comercial para a produção de filmes.
Mas Lescure ouviu um único consolo brasileiro, na reunião paralela organizada por Jean-Yves Mérian, adido cultural do consulado da França, do ministro francês da Cultura, Philippe Douste-Blazy, com representantes culturais de São Paulo.
Na reunião, o secretário de Estado da Cultura, Marcos Mendonça, apresentou seu programa de co-produção com a TV Cultura.
Mendonça ouviu o ministro assumir um compromisso com Moacir de Oliveira, da Secretaria do Audiovisual no Ministério da Cultura, de que as leis de intercâmbio cultural entre França e Brasil começarão a ser revistas e atualizadas a partir de encontros em Paris em outubro próximo.
O ministro da cultura da França enfatizou sua disposição para criar meios de recuperar o terreno cultural e econômico no mercado brasileiro com recíproca na França para os produtos culturais brasileiros.
Manifestou claramente o seu desejo de reduzir a participação hoje maciça do audiovisual americano em nosso mercado.
E deixou bem claro que o melhor exemplo que tem a oferecer é a experiência vitoriosa do Canal Plus no dinâmico mercado produtor e exibidor europeu.

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