São Paulo, sábado, 15 de março de 1997
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Sério mesmo?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Jacques Chirac não parece ter escolhido o momento mais pertinente para cravar a estaca no coração de Charles de Gaulle, ou ao menos de sua célebre e nunca dita frase segundo a qual "o Brasil não é um país sério".
Claro que esse tipo de atestado é folclórico. País algum é ou deixa de ser sério. Há nacionais deste ou daquele país que têm ou não comportamento pouco sério.
No caso brasileiro, ainda primam os comportamentos inadequados, em especial na área pública.
Seria sério não punir governantes que confessam ter violado dispositivo constitucional, como está ocorrendo agora?
Se é sério, equivale a criar a Constituição "prêt-à-porter": cada governante escolhe o artigo da Constituição que vai respeitar e aqueles que vai ignorar.
É igualmente pouco sério que a composição política das Casas Legislativas seja o fator determinante para haver ou não processos de impeachment. Pode ocorrer que um governador, em eventual minoria na sua Assembléia Legislativa, perca o mandato por delito idêntico ao de outro governador que, com maioria sólida, evita o processo. Seria sério?
É pouco sério, da mesma forma, o silêncio generalizado que se faz em torno do novo escândalo envolvendo PC Farias. Esta Folha está expondo, dia após dia, detalhes cada vez mais comprometedores dos vínculos de PC com o crime organizado.
É razoável supor que PC tivesse tais negócios sem que seu chefe, o ex-presidente Fernando Collor, nada soubesse? É sério deixar que a investigação se restrinja a um cadáver e não haja uma gritaria generalizada para estendê-la a um homem que foi presidente da República e não esconde a ambição de voltar à vida pública?
Se se apurasse um décimo do que a Folha publicou nos quatro últimos dias sobre o ex-tesoureiro de um ex-presidente de qualquer país dito sério, o mundo viria abaixo.

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