São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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PC se reuniu com doleiros argentinos

Encontro foi na semana que antecedeu sua morte

XICO SÁ; ARI CIPOLA
DO ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ E DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

Os argentinos Jorge Osvaldo La Salvia e Luiz Felipe Ricca, procuradores e responsáveis por parte das operações financeiras de PC Farias no exterior, estiveram em Alagoas, uma semana antes da morte do tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Na casa de PC, eles trataram, durante pelo menos dois dias, de negócios do empresário fora do país e colheram assinaturas para resolver problemas com a movimentação de recursos.
Além disso, deixaram PC informado sobre novas possibilidades de negócios nos chamados Tigres Asiáticos. Desde que esteve na Tailândia, quando foi preso em 1993, o tesoureiro de Collor começou a planejar investimentos na região.
Segundo a Justiça italiana, estiveram também em Maceió, pouco antes da morte do empresário, um grupo de mafiosos com os quais o empresário alagoano mantinha ligações comerciais.
Familiares e amigos de PC Farias confirmam o encontro de La Salvia e Ricca, mas dizem desconhecer a presença de qualquer italiano na cidade no mesmo período.
Para os amigos do empresário, as investigações da Justiça da Itália devem ter confundido os argentinos com os italianos.
As pessoas muito ligadas a PC em Maceió contam que havia a desconfiança por parte do empresário alagoano de traição em negócios.
La Salvia teria enganado o seu amigo ou, como dizia o próprio PC, de acordo com os seu confidentes, o argentino havia "passado a perna" -antiga maneira nordestina de dizer que alguém, mais esperto, enganou um ingênuo.
A traição teria ocorrido no início de 1994, quando o tesoureiro de Collor estava preso em uma sala especial do Batalhão de Choques da Polícia Militar de Brasília.
O fugitivo
Os laços entre PC e os argentinos ficaram mais estreitos durante o período da fuga do empresário, que deixou o país em junho de 1993, passou pela Argentina, Inglaterra e chegou à Tailândia.
Foi nesse período, por exemplo, que foi descoberta, durante as investigações da Operação Mãos Limpas (esforço de um conjunto de promotores para combater a máfia na Itália) a conta de PC Farias na Holanda.
Nessa época, segundo revelou a Polícia Federal brasileira, o tesoureiro de Collor transferiu US$ 7,8 milhões para contas de mafiosos italianos.
A ciranda também girava na direção contrária: os mafiosos depositaram recursos em contas de PC.
Adorável lavanderia
Segundo apurou a Folha, Jorge La Salvia é um grande conhecedor das formas de lavagem de dinheiro (legalização de recursos com origem suspeita) na América Latina.
A PF desconfia que ele comande também um esquema de tráfico de drogas que passa pelo Brasil, mas nunca conseguiu comprovar a sua tese desde 93.
Amigos de PC Farias em Alagoas e São Paulo contam que desconhecem as atividades de La Salvia ou do próprio tesoureiro de Collor com o mercado das drogas.
Segundo eles, o que pode ter ocorrido é a utilização por PC, com a ajuda de La Salvia, de cartéis, como o de Cali, "apenas" para lavar o dinheiro sujo.
Os amigos do empresário alagoano, profundos conhecedores dos negócios de PC -até pela participação indireta em algumas das transações-, resumem as suas opiniões em uma frase conhecida no mercado financeiro: "A mesma lavanderia que lava a minha roupa lava também a sua ou de qualquer outro".
(XICO SÁ e ARI CIPOLA)

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