São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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Minas passa SP e lidera oferta de emprego

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Minas Gerais passou a liderar o ranking brasileiro de oferta de novos postos de trabalho e deixou São Paulo em segundo lugar. Foram 21 mil empregos com carteira assinada a mais na margem mineira do Rio Grande, em 1996.
Após anos de liderança paulista, Minas começou a inverter as posições em 1995. Naquele ano, os mineiros ganharam 28 mil novos empregos formais, enquanto São Paulo cortava 48 mil vagas.
No ano passado essa tendência se consolidou, com 61.788 novas vagas mineiras para 40.885 paulistas.
O que fez a diferença entre os dois Estados foi a indústria. Em 1996, desapareceram 55 mil vagas nas fábricas em São Paulo. No mesmo período, do lado mineiro, foram criados 10.613 novos empregos industriais.
Muitas dessas vagas são fruto do investimento de empresas paulistas que estão abrindo filiais em Minas ou se transferindo para lá.
Belo Horizonte registrou o melhor desempenho entre as nove regiões metropolitanas do país. Entre contratações e desligamentos, o saldo foi positivo em 26.105 vagas para os belorizontinos.
Em seguida no ranking vêm o Rio de Janeiro (24.683 novos empregos) e uma metrópole nordestina: Fortaleza e seu entorno tiveram um saldo de 13.994 empregos, dos quais 3.585 na indústria.
Diretor-executivo do Serviço Estadual de Análise de Dados (SP), Pedro Paulo Martoni Branco diz que esse movimento de empresas está ligado aos impostos mais baixos cobrados por Estados como Minas e à mão-de-obra barata.
Secretário de Desenvolvimento Econômico, Emerson Kapaz aposta em dois fundos criados este mês pelo governo paulista para gerar mais empregos industriais.
O primeiro prevê empréstimos a juros de 5% ao ano para indústrias e agroindústrias já instaladas no Estado fazerem novos investimentos. O outro promete créditos de até R$ 70 mil por emprego/ano para empresas que criarem vagas em regiões pobres paulistas.
Vice-presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva diz que a nova distribuição regional do emprego pode ser boa. "Como industrial, me interessa que a riqueza seja mais bem espalhada pelo Brasil, aumentando o mercado consumidor".
Os três apontam as mesmas vantagens competitivas ainda mantidas por São Paulo para atrair investimentos: maior mercado consumidor do país, mão-de-obra qualificada, bom sistema de transporte e farta oferta de energia.
Apesar disso, as consequências da guerra fiscal já podem ser sentidas até no interior paulista.
A Confecções Emmes Ltda., com sede em Matão (a 300 km da capital), resolveu expandir seu negócio no ano passado. Após pesquisar várias opções de localização, instalou uma nova fábrica em Frutal, cidade mineira próxima à fronteira com São Paulo.
Duas razões foram fundamentais para que esses empresários com sólidas raízes paulistas optassem por investir em Minas. "ICMS menor e piso salarial mais baixo", conta o diretor-presidente da Emmes, Carlos Fernando Malzoni Fº.
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços cobrado em São Paulo é de 18%, contra 12% em Minas. Uma costureira, com encargos sociais, custa R$ 590,00 por mês em Matão. Em Frutal, a mesma função é preenchida por quase a metade disso: R$ 280,00.
No fim das contas, a Emmes conseguiu reduzir seus custos em 20% -necessidade vital para enfrentar a concorrência das camisetas e dos calções importados da China- e Frutal ganhou 150 empregos.
"Manteremos 300 empregados em Matão confeccionando produtos de valor mais alto. Em Frutal, faremos o calção mais barato do Brasil", diz José Luiz Monazzi, diretor comercial da Emmes.
A um custo de R$ 2,90 a unidade, Monazzi reconhece que, mesmo assim, o calção da Emmes custará mais do que seu similar chinês, que chega ao Brasil a R$ 2,60.
O setor têxtil é um dos mais afetados pela abertura das importações. Não é por acaso que a principal concorrente da Emmes em Matão, a Elite, também está abrindo uma filial em Minas.
Síntese do fenômeno da migração de indústrias paulistas para outros Estados, a história da Emmes terá seu próximo capítulo em outra região que gerou muitas vagas industriais em 96: a de Fortaleza. Lá, o governo promete dez anos de prazo para pagar o ICMS.
A empresa paulista está negociando a abertura de uma segunda filial, desta vez no Ceará.

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