São Paulo, domingo, 16 de março de 1997 |
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Livro anuncia nova crise de petróleo
LUCIA MARTINS
A tese é defendida por Said Aburish, no seu oitavo livro sobre o Oriente Médio, intitulado "A Ascensão, Corrupção e Queda da Casa de Saud". "Existe uma convergência de fatores no país. Eles têm problemas econômicos, políticos e sociais. Além disso, há ainda problemas de secessão dentro da família real." "O fato é que eles já tiveram esses problemas no passado, mas nunca tão intensos e nunca juntos. Então, acho que o país está descontrolado", disse Aburish. O autor, no entanto, não saberia dizer quem tomaria o poder no caso da queda do rei Ibn Faud. "Poderiam ser membros da própria família real ou o Exército, mas acho que os quem têm mais apelo para a população são os fundamentalistas." E, diz ele, a monarquia não tem tentado atacar os grupos radicais. "Pelo contrário, ela está cada vez mais parecida com os fundamentalistas. Estes sim é que não querem ser identificados com a família real. Dizem que, se tomassem o poder, não seriam corruptos." Mas apesar das semelhanças, há uma distinção básica entre a monarquia e os fundamentalistas: a política externa. "Os fundamentalistas sempre foram anti-EUA e o rei é um aliado. A situação é extremamente perigosa. Se o poder chegar às mãos desses grupos, isso terá impacto no mundo", afirma. "O que poderá levar a uma situação pior do que a do Irã (a tomada da embaixada americana em 1979 que levou à crise de petróleo). Por duas razões: ao contrário do Irã, que sempre foi um outsider na região, a Arábia Saudita é parte integrante; e a quantidade de petróleo produzido pela Arábia Saudita é muito maior". Corrupção Além dos problemas políticos, há os econômicos. No livro, o autor afirma que a "casa do Saud" (o palácio real é chamado assim por causa do primeiro e mais importante rei saudita) está ameaçada pela corrupção de seus membros. O país responsável por 25% de todas as reservas de petróleo do mundo perdeu, nos últimos 16 anos, cerca de US$ 100 bilhões de suas próprias reservas. Além do sumiço das fortunas acumuladas, outro problema enfrentado pelo país é buscar condições para criar outras fontes de renda que não seja o petróleo. O jornal inglês "The Financial Times" publicou artigo, na última terça-feira, analisando as dificuldades de o país desenvolver outros tipos de atividades (mais de 80% de toda a receita gerada no país é fruto da venda de petróleo). E, como Aburish, diz o artigo que os problemas são quase insolúveis, uma vez que este governo não faz investimentos nos meios de produção, só nele mesmo. Para o autor, não há como escapar. Solução Segundo ele, "há um limite de como o Ocidente pode influenciar a situação. Não se pode ir para a Arábia Saudita e ocupar territórios sagrados islâmicos. Haveria uma guerra com 1 bilhão de muçulmanos. Talvez ocupar os reservatórios de petróleo e, tenho certeza que há planos para isso. Mas é apenas uma solução temporária". "Se o sistema desintegrar internamente, que é o que está acontecendo, ninguém de fora poderá fazer nada. Até agora, o sistema não mostrou capacidade para entender os riscos", diz. Texto Anterior: Rei Hussein visita local de atentado; Direita húngara reúne 50 mil nas ruas Próximo Texto: Por dentro da Arábia Saudita Índice |
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