São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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O preço do design

MARCELO LIMA

Técnicas de produção e exclusividade orientam o valor do móvel de autor
Mesmo quando computadas as despesas com impostos e fretes, o preço dos móveis assinados por designers brasileiros supera, e muito, o valor cobrado pelos importados. Uma cadeira dobrável de vidro, por exemplo, chega a custar R$ 330,00 em uma loja na Vila Madalena, reduto do design paulistano, enquanto próximo dali, na praça Benedito Calixto, uma cadeira do mesmo tipo, vinda da Itália e feita em plástico, sai por R$ 248,00.
Diante da variação de preços cobrados por produtos na maior parte das vezes similares, adquirir peças assinadas, além de gosto pessoal, é tarefa que exige conhecimento e pesquisa.
Embora nem sempre aparente, a composição do preço de um móvel já começa durante a produção. Para os designers, peças únicas ou produzidas em pequenas quantidades justificam custo superior àquelas produzidas em escala industrial. Como regra, quanto maior a exclusividade, maior o preço final.
O designer José Carlos Machado, que tem suas cadeiras comercializadas pelo Galpão de Design, atribui o alto preço de suas peças aos custos decorrentes da produção em pequena escala.
"Como são produzidas em pequeno número, os moldes necessários à produção das minhas cadeiras acaba onerando o custo final", explica.
Uma vez concluída, a produção dos designers independentes segue duas vias: ou acaba sendo comercializada por lojas especializadas que garantem a promoção, mas acarretam aumento ainda maior nos custos, ou passam a ser vendidas diretamente nos ateliês, o que, apesar de restringir o acesso aos iniciados, possibilita preços mais em conta.
Importados
Já o preço final dos importados começa a ser definido no momento da aquisição dos móveis nos países produtores.
Embora nos grandes centros do design mundial como Milão, Londres e Paris seja possível adquirir peças com custo bastante inferior aos cobrados no Brasil, móveis e objetos assinados por designers consagrados, também têm custo comparativamente maior que produtos similares encontrados nos mercados locais.
O empresário Luciano Bedoni, da Via Nuova, distribuidor da Fiam italiana no Brasil, aponta a produção semi-artesanal de seus móveis em vidro como o principal fator do elevado custo das peças no mercado nacional.
Empregando vidro moldado com avançados recursos tecnológicos, os móveis Fiam ostentam ainda a assinatura de designers europeus, como Philippe Starck, Ron Arad e Massimo Iosa Ghini. "Lá, como aqui, quem exige exclusividade paga mais caro", justifica.
Conscientes do reflexo que trabalhar com uma linha de importados com alto valor inicial teria sobre o valor final de venda, as arquitetas Natalie Douek e Renata Prado pesquisaram fornecedores italianos durante um ano até se decidirem pela representação da italiana Maggis no Brasil, que produz mobiliário e utilitários com design contemporâneo.
"Nossa principal preocupação como distribuidores era oferecer ao mercado produtos de qualidade, mas com custo acessível a uma fatia maior de público", diz Renata.
Transportado em containers por via marítima, o móvel importado já chega às lojas com um preço em média 75% superior ao valor cobrado nos centros produtores, devido às despesas com a importação, impostos e fretes.
A partir daí, somadas as porcentagens de lucro do distribuidor e do lojista, chega-se ao preço final.

Fotos: Rogério Miranda
Produção: Dedê Pissinatto

ONDE ENCONTRAR Benedixt: pça. Benedito Calixto, 103, Pinheiros, tel. 852-6551. Galpão de Design: r. Aspicuelta, 145, Vila Madalena, tel. 814-3393. Novo Rumo: r. Roma, 383, Lapa, tel. 262-2533. Via Nuova: av. Nove de Julho, 5.836, Jardins, tel. 853-8755.

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