São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997
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Conta de juros supera saúde e educação

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A conta de juros a ser paga pela União em 97 supera os gastos previstos com saúde e educação, duas das prioridades máximas anunciadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
Enquanto a educação e saúde consomem, respectivamente, 5,5% e 8,7% das verbas do Orçamento, os juros das dívida interna e externa engolem, sozinhos, 12,1% de tudo o que o governo espera arrecadar.
O fenômeno vem se repetindo desde o início do atual governo. A conta com juros não parou de crescer e deve passar de R$ 25,2 bilhões em 1997. É o que indica a lei orçamentária sancionada pelo presidente no início do mês.
Vale
A conta com juros consumirá, a cada dois meses, mais do que o governo espera arrecadar no leilão de 45% das ações ordinárias com direito a voto da Companhia Vale do Rio Doce, no final de abril. O mais importante lote da estatal está avaliado em R$ 3 bilhões.
Nos dois primeiros anos de mandato de FHC, os gastos da área social não acompanharam a escalada dos juros.
Caíram as despesas nas funções do Orçamento mais ligadas à área social, como educação e cultura, saúde e saneamento e agricultura.
O comportamento dos gastos públicos foi pesquisado pelo gabinete do deputado Paulo Bernardo (PT-PR) nos registros do Siafi -sistema informatizado de acompanhamento da contabilidade da União.
Valores
Os valores foram convertidos a preços médios de 1996 para permitir a comparação.
No levantamento, os gastos na área social incluem até o pagamento de salários e aposentadorias de servidores -a despesa que mais pesa no Orçamento.
A recuperação dos gastos sociais em 1997, estimada na lei do orçamento, dificilmente resistirá ao programa de contenção de gastos em estudo no Ministério do Planejamento.
Tendência
A lei sancionada por FHC prevê gastos de R$ 63,3 bilhões. Se for mantida a tendência registrada desde o início do governo, cerca de 20% desse valor poderá ficar no papel.
Em 1995, o governo gastou na área social 76,1% do que o Congresso havia autorizado. No ano seguinte, foram liberados 80,5% das verbas.
O corte mais pesado atingiu os programas da área de habitação e urbanismo, seguidos pela agricultura. E não poupou nem a área de saúde.
Como o governo não tinha como deixar de pagar salários e aposentadorias, o prejuízo maior apareceu em programas sociais importantes.
Exemplos do que ocorreu nos dois primeiros anos de governo: o programa de combate à desnutrição materno-infantil perdeu 78,62% das verbas e o programa de erradicação do analfabetismo investiu 23,45% menos.
Bola de neve
O governo alega que a emissão de títulos que aumentou o capital do Banco do Brasil também pesou para aumentar conta dos juros em 1997. A emissão de cerca de R$ 6,9 bilhões em títulos evitou que o banco quebrasse.
Desde o início do governo, os juros representam um dilema para a equipe econômica.
Ao mesmo tempo que pressionam as contas públicas, as altas taxas têm servido tanto para conter o consumo e manter os preços baixos como para melhorar as contas externas.

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