São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997
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Banco de Cayman escoou dinheiro de PC

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O empresário Paulo César Farias, o PC, movimentou dinheiro obtido no Brasil e recebeu depósitos da máfia em três contas abertas na Suíça em nome do banco Trade Link Bank, sediado nas Ilhas Cayman (paraíso fiscal na América Central).
A informação consta das investigações feitas pela polícia italiana sobre o envolvimento financeiro de PC com um grupo de mafiosos de Agriento, sul da Sicília, liderado por Alfonso Caruana.
PC abriu pelo menos três contas em nome do banco -duas no S.C.S. Alliance, em Genebra, outra no Suisse Bank Corporation, em Zurique. PC era o procurador do banco responsável pela movimentação das contas.
A Polícia Federal já havia detectado seis contas movimentadas por PC na Suíça, além de uma conta na Holanda e três nos Estados Unidos. Das 6 contas na Suíça, 3 estão em nome do Trade Link.
Por isso, a PF suspeita que o banco Trade Link foi usado para escoar o dinheiro obtido pelo esquema PC -rede de tráfico de influência comandada pelo empresário durante o governo Collor (1990-1992).
A PF tentará investigar a movimentação de dinheiro do Trade Link Bank no inquérito que será aberto nesta semana pelo delegado Daniel Lorenz, da Dcoie (Divisão de Combate ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais).
A maior dificuldade da PF será quebrar o sigilo bancário do Trade nas Ilhas Cayman. Os paraísos fiscais não admitem a violação das contas em nenhuma hipótese. Isso, porém, pode ser feito com as contas na Europa e nos EUA.
Segundo a polícia italiana, a sede do Trade, em Cayman, teria recebido em 93 um depósito de US$ 2,6 milhões do italiano Angelo Zanetti, ex-administrador financeiro de operações do narcotráfico.
Zanetti ajudou a revelar à Justiça da Itália o envolvimento financeiro de PC com mafiosos da Sicília ligados ao tráfico de cocaína. O colombiano Gustavo Delgado, ex-caixa de Pablo Escobar (cartel de Medellín), também deu informações à Justiça.
Os ex-companheiros mafiosos de Zanetti estariam foragidos no Brasil. A Itália encaminhou em 1994 pedidos de prisão contra os ex-companheiros de Zanetti à Justiça Federal.
Zanetti começou a administrar operações financeiras da máfia em 1992. No seu depoimento consta que ele desconhecia se antes de 92 outros depósitos foram feitos pela máfia nas contas de PC na Holanda, Ilhas Cayman e Uruguai.
Informações passadas à PF pela polícia italiana dão conta de que Zanetti participava do grupo de traficantes que fez oito remessas de cocaína a Itália, no período de dezembro de 1991 a maio de 1994.
O ex-administrador financeiro da máfia foi preso em 1994 após a apreensão de 5,5 toneladas de cocaína na Itália no porto de Gênova.
Depois, ele se tornou "pentiti", denominação dada pelos italianos aos traficantes "arrependidos" que passam a colaborar com as investigações. Atualmente, Zanetti vive na Itália sob a proteção.

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