São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997
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Grupo de estrangeiros visita favela

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Um grupo de 41 delegados estrangeiros, do Canadá à Tanzânia, da Índia à Finlândia, presentes à Rio+5 visitaram o Centro Cultural Banco do Brasil e em seguida foram assistir pagode, afro-reggae e capoeira na favela sobre o morro do Cantagalo.
Saíram com uma salada de impressões sobre o passado do Brasil e o presente de uma favela carioca.
Outros tantos delegados fizeram um passeio "social-comunitário" à Fábrica da Esperança, um complexo de projetos sociais na região de Acari (zona norte). E outros tentaram um "tour ambiental", na Floresta da Tijuca e Jardim Botânico (zona sul), com chuva.
"Foi bom vir aqui, ver o outro lado do Rio além das belezas naturais", dizia o tailandês Chamniern Paul Vorratnchaiphan, que trabalha em projetos assistenciais em favelas em seu país há 25 anos.
Em meio ao estrondo dos surdos e caixas do pagode, ele tentava se comunicar com Paulo Roberto Martins, da Associação Comunitária do Complexo Pavão, Cantagalo e Pavãozinho (zona sul), com ajuda de Andréa Pinheiro, uma tradutora do Viva Rio, a instituição que planejou os passeios.
A curiosidade dos ambientalistas começou no Centro Cultural, mas os painéis apenas em português impediam entender algo do passado brasileiro. Império? O Brasil era um Império? Mas vocês não eram colônia portuguesa? E esse Vargas? Quem era?
Na favela, a mesma curiosidade. Quantos vivem em cada casa? Como eles fazem para subir aqui em cima? Eles têm times de futebol?
O choque cultural variava com a distância do país, ou de brasileiros.
A norte-americana Lyuba Zarsky, co-diretora do Instituto Nautilus para Segurança e Desenvolvimento Sustentável, mexia os pezinhos ao ritmo do samba e comentava que já estava acostumada, "há tantos brasileiros na Califórnia".
Ao seu lado, Vithanawsam Nanayakkara, do Ministério do Transporte, Meio Ambiente e Assuntos da Mulher de Sri Lanka, tinha mais dificuldade em acompanhar o ritmo nada asiático.
Transporte, Meio Ambiente e Mulher em um mesmo ministério? "É um assunto complexo", diz Nanayakkara. "É que no país dele as mulheres são consideradas um recurso natural", brincou a americana ao seu lado, com uma ironia feminista levemente disfarçada.
O chinês Shi Han, do Centro Administrativo da China para a Agenda 21, dizia que já tinha ouvido música parecida na Costa Rica.
E aproveitava para perguntar, como todos que conversavam com algum brasileiro nos mais diferentes sotaques da língua inglesa, quantos viviam ali. As casas são todas de alvenaria? O que eles fazem com o lixo?

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