São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997
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Lixo do Rio se 'sofistica' com Plano Real

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

O Plano Real, lançado em 1994, mudou a quantidade e a composição do lixo recolhido na cidade do Rio de Janeiro entre 1993 e 1996 -sobretudo em regiões pobres e favelas.
A conclusão, a partir de exames dos detritos do município, é da Comlurb, estatal carioca encarregada da limpeza pública.
As mudanças, de acordo com a empresa, refletem alterações nos padrões de consumo da população, que, em consequência do crescimento da renda causado pela estabilidade econômica, estaria consumindo mais e, principalmente a partir do ano passado, melhores produtos.
Segundo a Comlurb, em dezembro de 1996 foram recolhidas, em média, 7.700 toneladas/dia de lixo na cidade, 26% mais que no mesmo mês de 1993, quando foram retiradas 6.100 toneladas diárias das ruas do Rio de Janeiro.
O salto foi maior no ano passado, quando a média de detritos recolhidos na cidade subiu 16,7% em relação a 1995.
Estudos feitos pelo centro de pesquisas da empresa detectaram que, no período, aumentou em 20% a participação da matéria orgânica -formada, em 70% de sua composição, por restos de alimentos- no lixo dos cariocas.
Em 1993, 40,6% dos detritos recolhidos pela Comlurb eram orgânicos; em 1995, já na fase pós-Real, 45,43%; no ano passado, 48,81%, mostram os números.
Plano Collor
A situação não é nova. Em 1991, de acordo com as medições da Comlurb, a quantidade de matéria orgânica presente no lixo dos cariocas era de 48,56% do total recolhido.
Técnicos da empresa atribuem o resultado ao Plano Collor 2, editado naquele ano.
A novidade do Plano Real é que o ganho com o fim do chamado imposto inflacionário se manteve.
Nos choques econômicos anteriores, o aumento acabou consumido pela volta da inflação, explica os técnicos.
Quando isso ocorria, o consumo recuava e, com ele, a quantidade de matéria orgânica no lixo.
Segundo o diretor industrial da Comlurb, José Bulus, o aumento da matéria orgânica, em 1995, ocorreu em todas as áreas e se baseou em produtos de primeira necessidade: feijão, arroz, macarrão etc.
Mas os dados recolhidos em 1996 já indicaram, segundo a empresa, uma dose de sofisticação no padrão de consumo dos cariocas, incluindo as favelas e os bairros populares.
No complexo da Maré, grupo de favelas na zona norte da cidade, por exemplo, a quantidade de matéria orgânica -que subira de 56,32% em 1993 para 64,31% em 1995- caiu para 54,52% no ano passado.
Isso, porém, não indicaria um recuo nas compras, mas uma alteração -para melhor- na qualidade, segundo a Comlurb.
"Os favelados, antes, compravam muitos produtos 'xepados', ou seja, restos de feira, ou de qualidade inferior, que se deterioravam mais", afirmou Bulus.
No mesmo período, aumentou a presença de vidros e plásticos no lixo da Maré.
A proporção de vidro, entre 1993 e 1996, subiu de 2,69% para 4,55%, e a de plástico, de 10,82% para 14,17%.
'Estamos achando no lixo das favelas uma grande quantidade de coisas que não encontrávamos antes, como frascos de remédios", contou Bulus.
Segundo a Comlurb, também se destacaram, no crescimento dos detritos dos favelados, as garrafas de bebidas, especialmente esportivas, como Fruitopia e Gatorade.

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