São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997
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Dupla alegria

JUCA KFOURI

Às vezes é leve ser jornalista. Sexta-feira passada foi duplamente compensador.
Os dois melhores jogadores de Minas Gerais, dois talentos puros e raros no futebol mundial, Tostão e Reinaldo, que mal se conheciam, estiveram juntos pela primeira vez num programa de TV -no ar hoje no fim de noite da CNT.
Tostão, que enfim está de volta na Band, é sempre garantia de uma conversa inteligente e sensível. Desta vez foi também surpreendente.
Como quando revelou que os jogos mais marcantes de sua vida foram aqueles nos quais deu gols, não nos que os marcou.
Entre esses, o contra o Uruguai na Copa de 70, quando passou para Clodoaldo empatar e Jairzinho virar o placar.
Ou, na mesma Copa, ao perceber que seria substituído por Roberto Miranda -sim, já tinha substituição na Copa de 1970-, quando iniciou a jogada que culminou no único gol contra a Inglaterra.
Perguntado sobre sua admiração por Zagallo, um técnico que, afinal, achava que ele não podia jogar junto com Pelé, Tostão não só a confirmou como disse que o treinador tinha a vantagem de se preocupar com a tática do jogo.
Para dizer, em seguida, que ficou profundamente decepcionado com o mesmo Zagallo ao acompanhar seu trabalho no Pré-Olímpico e na Olimpíada, não só porque não testemunhou nem um só treino inteligente -esteve em todos e conta que "era só ataque contra defesa em meio campo"- como, ainda , o viu desdenhar dos rivais, na base do "eles é que têm de se preocupar com a gente."
Já Reinaldo, o maior artilheiro da história do Mineirão, está em franca recuperação, se comove ao falar do quanto se sentiu querido pelo país inteiro, planeja ser técnico de futebol, tem Telê Santana na conta do melhor treinador que conheceu -apesar de não tê-lo levado para a Copa de 1982.
Seu jogo inesquecível foi a final nacional contra o Flamengo, em 1980, quando o Maracanã o chamou de "bichado" em coro -"e eu estava mesmo"-, ele marcou dois gols, calou o maior estádio do mundo e acabou injustamente expulso do campo, sem ver o gol que deu o título ao rubro-negro.
Reinaldo reconhece que suas glórias, diferente da trajetória de Tostão, não foram proporcionais ao seu talento, mas diz que o que guarda no peito é mais que suficiente. E aposta em seu filho Daniel, 15 anos, que está treinando no Galo.

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