São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997![]() |
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'A Um Passo' é quintessência do diretor
JOSÉ GERALDO COUTO
Todas as características que fizeram a glória do diretor estão nesse drama ambientado numa base militar norte-americana: a competência narrativa, nos limites da convenção; a sustentação de todo o peso dramático sobre a interpretação dos atores; as intenções edificantes. Estas últimas, no caso, são bastante discutíveis: tratava-se de exaltar, acima das paixões pessoais, o patriotismo norte-americano. A história, como se sabe, se passa na base militar de Pearl Harbor, às vésperas do ataque aéreo japonês que lançaria os EUA na Segunda Guerra Mundial. A ação, em princípio, é episódica, mostrando os dramas dos vários soldados e oficiais reunidos na base. Há o comandante tirânico (Philip Ober), cuja fogosa mulher (Deborah Kerr) acaba tendo um caso com um sargento bonitão (Burt Lancaster). Há o jovem que sonha em tocar clarim (Montgomery Clift) e tenta escapar de seu destino de boxeador. Há o ítalo-americano desajustado e criador de casos (Frank Sinatra) e o sargento sádico que gosta de puni-lo (Ernest Borgnine). Maniqueísmo Já nessa primeira parte, magnificamente conduzida em termos dramáticos, existe algo de superficial e maniqueísta: de um lado estão os bons (Lancaster, Clift, Sinatra), de outro os maus (Ober, Borgnine). Os maus, como reza a cartilha de todo cinema convencional, acabarão sendo punidos no final. O destino do comandante Holmes (Ober), aliás, era diferente no romance de James Jones que inspirou o filme. No livro, ele era promovido. No filme, graças a pressões do Exército e ao puxa-saquismo do chefão da Columbia, Harry Cohn, ele é destituído de seu posto. Próximo ao final, a despeito de suas ambições e idiossincrasias individuais, todos os bons que sobraram (pois Sinatra foi assassinado por Borgnine, por sua vez justiçado por Clift) entregam-se à luta heróica contra os japoneses. Melodrama Tendo em mente que o filme foi realizado no auge da Guerra Fria, quando escritores e cineastas suspeitos de serem esquerdistas eram perseguidos nos EUA, entende-se por que Buñuel considerava "A Um Passo da Eternidade" um "detestável melodrama militarista e nacionalista". Sinatra e Clift Sinatra, ao contrário, estava em baixa e implorou pelo papel, aceitando trabalhar por humilhantes US$ 8 mil. O filme todo custou US$ 2 milhões, considerado na época um grande orçamento, e rendeu US$ 80 milhões em todo o mundo. Foi indicado a 13 Oscars e ganhou oito: filme, direção, roteiro, fotografia, montagem, som, ator coadjuvante (Sinatra) e atriz coadjuvante (Donna Reed). Pelo menos duas cenas são memoráveis: o beijo adúltero de Kerr e Lancaster na praia e o bombardeio da base pelos aviões japoneses, com os soldados correndo para todos os lados. Zinnemann podia ser um grande oportunista, mas entendia de seu ofício. Texto Anterior: Zinnemann morre sem deixar marca pessoal Próximo Texto: Remake de 'Cangaceiro' fecha Recife Índice |
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