São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997
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Paz com palestinos atravessa nova crise

SÉRGIO TEIXEIRA JR.
DA REDAÇÃO

A atual crise entre israelenses e palestinos é a segunda nos nove meses de governo do primeiro-ministro de Israel, o conservador Binyamin Netanyahu.
Desde que foi eleito, em maio do ano passado, "Bibi" (como é conhecido no país) tem desagradado a gregos e troianos -no caso, a palestinos e israelenses.
Não que as expectativas de levar adiante o processo de paz fossem promissoras. O premiê e seu partido, o Likud, são contra o princípio de entregar terras em troca da paz, que norteia os acordos existentes.
Além disso, a eleição aconteceu dois meses depois de uma série de atentados suicidas cometidos por palestinos dentro de Israel, que deixou mais de 60 mortos.
Ganhou força sua plataforma de "segurança primeiro, paz depois", o inverso do que propunham os trabalhistas, cujo candidato era Shimon Peres.
Menos de cem dias depois de empossado "Bibi", veio a primeira grande crise. Israel decidiu fazer uma nova abertura em um túnel de mais de 2.000 anos que fica sob a Esplanada das Mesquitas -onde estão as mesquitas de Al Aqsa e do Domo da Rocha, locais sagrados para os muçulmanos.
Para os palestinos, o ato era uma provocação. As estruturas das mesquitas poderiam ser abaladas. Israel manteve sua posição.
Como nos tempos da Intifada, a revolta iniciada em 1987, conflitos irromperam em toda a Cisjordânia. Palestinos voltaram a atacar as tropas de ocupação -mas, dessa vez, com participações isoladas da recém-criada polícia palestina.
Mais de 60 palestinos e 15 israelenses morreram. A crise só acabou após a intervenção dos EUA, que patrocinaram um encontro entre Netanyahu e Iasser Arafat.
Mas uma potencialmente mais perigosa desavença entre "Bibi" e Arafat começou em meados do mês passado, quando o governo do premiê anunciou a construção de 6.500 casas para judeus na parte leste de Jerusalém, sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos.
Além dos palestinos, árabes, União Européia, ONU e até os EUA, ferrenhos aliados dos israelenses, criticaram a decisão.
A Autoridade Nacional Palestina (o governo palestino) quer que a porção leste seja a capital de um futuro Estado -o status dos territórios devolvidos e o futuro da cidade têm de ser negociados, conforme previsto no acordo de paz.
O problema, reclamam os palestinos, é que as casas para 26 mil israelenses na colina de Jabal Abu Ghneim (como chamam os palestinos; Har Homa para os israelenses) são raízes cada vez mais profundas na cidade, obstáculos para as negociações futuras.
Então administrada pela Jordânia, a parte oriental de Jerusalém foi ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias (1967).
O país declarou a cidade, unificada, sua capital. Mas a comunidade internacional não reconhece Jerusalém como tal, e a maioria dos países tem suas representações diplomáticas em Tel Aviv.
Israel confirmou o início das obras em Har Homa/Jabal Abu Ghneim para esta semana. Para Hussein, o rei da Jordânia, a tensão pode voltar e explodir em enfrentamentos.

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