São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HC experimenta 'transplante de repique'

RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo desenvolveu uma nova técnica de transplante de fígado que permite atender dois receptores com um único órgão.
O primeiro "transplante de repique", como é chamada a nova técnica, foi realizado no dia 8 deste mês, na Unidade de Cirurgias Experimentais. "É a primeira vez no mundo que se adota esse procedimento", afirma Silvano Raia, chefe da equipe que fez o transplante.
Os pacientes transplantados passam bem e devem ter alta ainda nesta semana, segundo Raia (leia texto ao lado).
O novo método foi desenvolvido para driblar a falta de órgãos disponíveis e dá esperança para um tipo de paciente que, em geral, era considerado perdido.
A técnica envolve um doador original e dois pacientes com problemas hepáticos.
A primeira parte do "repique" funciona como um transplante usual. O fígado são é retirado de alguém que tenha tido morte cerebral e transferido para uma pessoa que sofra de PAF (Paramiloidose Familiar), doença hereditária cujo portador possui um fígado absolutamente normal, mas que produz uma proteína "defeituosa".
No entendimento dos médicos, o acúmulo dessa proteína no sistema nervoso por um período acima de 20 anos causa problemas que acabam por acarretar a morte.
Assim, o fígado de um paciente de PAF pode ser transplantado a um outro paciente por um período inferior a 20 anos. E é isso que se está fazendo no HC.
Na segunda parte do repique, o fígado do doente de PAF é transferido para um paciente que tenha vírus de hepatite B replicante. Esse tipo de vírus causa a mais grave hepatite e gera câncer hepático, que leva o paciente à morte.
Até a descoberta dessa nova técnica, os portadores desse tipo de vírus não recebiam transplante, porque há grande possibilidade de a doença atacar o novo órgão.
"Com a nova técnica, esse paciente sem esperança recebe um fígado que seria descartado."
Com o fígado novo, o portador do vírus pode receber medicamentos antivirais. Antes de ter o câncer extirpado, o paciente corria o risco de morrer antes de o medicamento fazer efeito.
"Transplantamos um paciente que nunca receberia transplante sem mexer na lista de espera."
Raia diz que há hoje na fila de espera nove pacientes de PAF cujos órgãos poderão ser utilizados em outros indivíduos. No total, 90 pessoas esperam um fígado.
No futuro, o médico acredita que os receptores dos fígados com PAF poderão receber outros transplante antes de a doença se manifestar. "O transplante com órgãos de animais deve ser viabilizado antes de esses pacientes morrerem."

Texto Anterior: Universidade decepciona 82% dos alunos
Próximo Texto: Primeiros pacientes viram compadres
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.