São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
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Um bom artigo para compreender as ligas

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, uma das questões mais difíceis para a modernização do futebol brasileiro está na constituição da chamada liga.
A dificuldade provém do fato de os clubes não estarem estruturados profissionalmente e do grande poder político das federações estaduais e da CBF.
George G. Daly, um professor da Stern School, que foi consultor da Liga Nacional de Futebol (americano), nos EUA, escreveu um interessante artigo sobre o beisebol como negócio, que pode nos ajudar a pensar na questão da liga para o futebol brasileiro.
Segundo ele, uma liga consiste em um grupo de times privados e separados entre si que produzem uma série de competições entre eles.
A liga é dirigida por uma autoridade central, mas muito do poder econômico permanece com as pessoas que possuem os times individualmente (primeira diferença com o futebol brasileiro, porque, aqui, os times são fracos política e economicamente).
Segundo Daly, uma liga, basicamente, rege-se pela lei de mercado: precisa que as entradas sejam substancialmente superiores às saídas.
Mas, apesar disso, ele aponta uma diferença fundamental entre o negócio da liga e os demais negócios: ela é constituída por um elenco de times que, embora privados e com proprietários particulares, interdependem um dos outros.
Ou, nas suas próprias palavras, "o que aparece para os torcedores como uma competição entre dois times rivais é, nas perspectivas do negócio, um cooperativo ato de produção entre eles".
O que deve caracterizar uma empresa ou organismo que produz competições é a sua capacidade de, ao mesmo tempo, preservar a rivalidade externa, que vai gerar interesse pelas partidas, e manter os investimentos comuns entre os times que participam dessa liga.
Em outras palavras, os times devem ser rivais e parceiros ao mesmo tempo (mais uma vez, coisa que não ocorre no Brasil, onde os interesses dos times de futebol estão atomizados).
Prossegue Gorge G. Daly: "uma liga é eminentemente uma 'joint venture', um negócio no qual um time individual é incapaz de produzir uma competição com o outro. De fato, a qualidade da competição atlética entre times é altamente dependente do grau de cooperação para negócios entre eles. A questão chave não é só a colaboração dos times, mas como essa colaboração leva a um produto melhor".
Está claro o caminho. Clubes de futebol precisam se pensar não apenas como rivais ou inimigos, mas também como parceiros na elaboração de melhores campeonatos.
Se o conjunto dos torneios melhorar no Brasil, certamente a vida dos clubes, em particular, será mais próspera.
Essa consciência coletiva está faltando aos nossos dirigentes de clubes. Até agora, na maioria dos casos, eles trabalham como o pólo fraco, e não o pólo forte do futebol.
Clubes fortes serão a base de uma liga forte. Clubes fracos são massa de manobra da politicagem das federações.
Em todos os países, em todos as modalidades profissionais, o caminho está sendo o da profissionalização da liga. Será que só nós estamos certos?

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