São Paulo, terça-feira, 18 de março de 1997
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Asian Art Museum expõe refinamento dos quimonos

ADRIANE GRAU
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

A roupa usada pelas mulheres orientais sempre fascinou as ocidentais. O toque delicado da seda e o padrão assimétrico dos quimonos japoneses são o lado conhecido de um ritual que conquistou o mundo após a Revolução Têxtil.
A exposição "Quatro Séculos de Moda: Quimonos Clássicos do Museu Nacional de Kioto", que acontece até o dia 23 no Asian Art Museum de San Francisco, é uma chance única de entender como surgiram e evoluíram esses robes. O Asian é o maior museu dedicado à arte oriental no Ocidente.
Considerados tesouro nacional pelo governo japonês, os 42 quimonos nunca haviam sido expostos fora do Japão.
Entre as peças raras, estão três quimonos do século 16. Um destes é um "dofuku", ou casaco vestido pelos samurais, no qual foi realizado um intricado trabalho de "tie-die". A técnica de amarrar o tecido em milhares de nós e tingi-lo foi aperfeiçoada pela escola de tecelões que há quatro séculos se dedica somente à manufatura de robes no Japão.
"Fazer um quimono de primeira linha é trabalho para uma equipe de até seis artesãos", explica Yoko Woodson, curadora de arte japonesa do Asian e responsável pela mostra.
"Com a dedicação de uma vida inteira, cada um deles atinge a excelência no corte, tingimento, bordado e tecelagem."
Atualmente, quimonos tão valiosos são vestidos apenas pelos membros da família imperial japonesa em ocasiões especiais como coroações, casamentos e funerais. "É necessária pelo menos uma hora para vestir os vários 'kosode' (robes) e 'obi' (cintos)", diz Woodson. "A época atual exige roupas mais práticas."
Noivas seguem a tradição e usam quimonos após a cerimônia de casamento, realizada com vestido branco.
"São três camadas, sendo a de fora a mais simples, normalmente preta", diz Woodson. "Em vez de fazer coques, hoje em dia é comum o uso de perucas."
Os penteados desenvolvidos para serem usados com os quimonos ocupam uma parte especial da mostra. Numa vitrine, há 11 exemplos de coques feitos com cabelo humano.
"No século 18, surgiram as cabeleireiras profissionais e foi desenvolvida a parafernália para manter o penteado", explica Woodson. Também há diversos "kanzashi" (enfeites para cabelos) expostos.
Yoko Woodson explica ainda que, por meio da análise da estampa, é fácil estabelecer a época em que foi feito o quimono e a classe a que pertencia a mulher que o vestia. "As mulheres de samurais optavam pelos "uchikake" no inverno e "kosimaki" no verão, enquanto as nobres preferiam os "osode" (robes de mangas largas)", revela ela.
O curioso "maki-e", um queimador de incenso cercado por tela sobre o qual o quimono é mantido, mostra como as mulheres se perfumam.
"O conceito de bom gosto que conhecemos no Ocidente contemporâneo foi definido como 'iki' no Japão desde o século 16", completa Woodson.
O Asian Art Museum pode ser acessado na Internet, no endereço http://sfasian.apple.com
(AG)

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