São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pitta diz que carro serviu filha de primo

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia depois de a CPI acusar sua mulher, Nicéa Pitta, de usar um carro pago pelo Banco Vetor, o prefeito de São Paulo, Celso Pitta, evitou dar entrevistas à imprensa. Sua assessoria divulgou comunicado sobre o caso.
Na nota, de oito pontos, Pitta afirma que o carro serviu para atender a filha de um primo dele que mora em Olinda (PE). Seu primo chama-se Ivan da Rocha Pitta -sua filha, Mayra, submeteu-se a uma cirurgia em São Paulo.
O Banco Vetor está envolvido na venda de títulos que causou prejuízos de R$ 600 milhões a Estados e municípios. Segundo a CPI, o aluguel do carro custou R$ 2.600 -a Localiza fala em outro valor (ver reportagem à pág. 1-7).
Na época do aluguel, março de 1996, Pitta era secretário das Finanças da Prefeitura de São Paulo. Para a CPI, a operação para a venda de títulos foi montada naquela secretaria por auxiliares de Pitta.
Ajuda
Segundo a versão do prefeito, ele pediu ajuda a Pedro Neiva, que também trabalhava na secretaria, para auxiliar Nicéa no atendimento aos seus parentes. Amigo pessoal de Pitta, Neiva também está envolvido no caso dos precatórios.
Na nota, Pitta afirma que sua mulher tentou pagar o aluguel do carro. "O sr. Neiva disse então que isso não era motivo de preocupação, já que a locadora havia feito uma cortesia a ele", diz Pitta.
Em Brasília, o senador Roberto Requião, relator da CPI, foi irônico com a versão. "Fico imaginando como poderia ter acontecido. A sobrinha do prefeito fica doente e ele vê uma propaganda no jornal: 'Vetor, um banco a seu dispor'. Aí ele telefona e o banco manda um carro para sua mulher".
Pitta almoçou com empresários da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria. Recebeu de presente da comunidade judaica uma réplica das chamadas "Tábuas da Lei", com os dez mandamentos.
Para o judaismo, as "tábuas" foram entregues por Deus a Moisés -1250 anos antes de Cristo. O cristianismo simplificou e adotou os dez mandamentos.
Ao chegar para o almoço, Pitta prometeu falar com os repórteres no final da recepção.
Sua assessoria confirmou que o prefeito daria entrevista. Mas, encerrado o almoço, Pitta saiu apressado, evitando as indagações dos repórteres.
Falando mais alto que os repórteres e evitando qualquer possibilidade de entrevista, o prefeito fez um rápido pronunciamento.
Disse que a nota distribuída dava "todos os esclarecimentos e explicações".
"Aparentemente, pode estar até com uma incongruência, uma vez que a informação que foi passada, através (sic) dos jornais, é que o carro teria sido alugado no Rio de Janeiro, quando na realidade não aconteceu isso", disse. "O carro foi alugado em São Paulo; a fatura foi emitida por filial no Rio."
"Eu reafirmo a minha disposição, que já foi externada formalmente há 30 dias, de depor na CPI. Eu repito: não tenho nada a temer, nada a esconder."
À medida que ia falando, Pitta andava de costas, em direção ao seu carro. Os repórteres não conseguiam interrompê-lo. Atrás, um segurança abriu a porta do carro. Pitta entrou rapidamente no veículo, que saiu em velocidade.
Antes de sair, Pitta disse que "qualquer outra informação" só será prestada à CPI. "Acredito que seja neste fórum que essas acusações terão que ser definitivamente respondidas", afirmou.

Colaborou a Sucursal da Brasília

Texto Anterior: Banqueiro revela encontro com Pitta
Próximo Texto: Leia a nota de Pitta
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.