São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 1997
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Dinheiro da máfia entrava no Brasil para 'corrupção'

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O comando de operações especiais da polícia militar da Itália (ROS) confirmou ontem oficialmente à Folha que parte dos recursos arrecadados pela máfia italiana e pelo narcotráfico colombiano eram injetados no Brasil para "corrupção".
Reservadamente, investigadores que trabalham no caso dizem que o empresário Paulo César Farias, tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello, era quem recebia o dinheiro, cujo fim era abrir portas para negócios da máfia e do narcotráfico colombiano na América Latina -principalmente no Brasil.
O comando ROS também revelou oficialmente que o cartel de Cali usou o Brasil como ponto de saída de 4 dos 8 carregamentos de cocaína que chegaram à Itália patrocinados pela máfia calabresa (N'drangheta) de 91 a 94.
Em 91, um lote de 140 kg da droga saiu do município de São Paulo para a Itália. No mesmo ano, outros dois carregamentos -de 150 kg cada- foram enviados à Itália, pelo porto de Santos (SP). A rede de narcotráfico teve problemas ao utilizar bases no Rio Grande do Sul para levar o quarto carregamento.
A idéia era transportar três toneladas de cocaína do Rio Grande do Sul para a Itália em maio de 93. Mas, por falta de segurança, a entrega foi adiada por um mês.
Em julho daquele ano, a Polícia Federal apreendeu duas das três toneladas da droga. Ainda assim, os traficantes conseguiram fazer com que a droga restante fosse entregue na Itália um mês depois.
Conforme a Folha revelou na semana passada, a Justiça e a polícia italiana chegaram até o envolvimento de PC com a máfia e o narcotráfico quando interceptaram a nona remessa de cocaína.
Os responsáveis por esse carregamento de 5,5 toneladas, apreendido em março de 94 em Borgaro Torineze, no Norte da Itália, aceitaram colaborar com a Justiça em troca de tratamento especial. Assim, chegou-se ao nome de PC.
As investigações da polícia militar italiana chegaram a provas de que PC era aliado da máfia e do narcotráfico na "lavagem" de dinheiro ilegal. Não está claro para os investigadores se PC Farias participava diretamente do tráfico.
Ainda segundo informações oficiais do comando ROS, o criminoso de origem italiana e cidadania suíça Angelo Zannetti, que efetuou depósitos de US$ 2 milhões em contas de PC no exterior, era um dos responsáveis pelo tráfico.
Metralhadoras
O comando ROS informou que a rede de tráfico de cocaína à qual PC estava ligado também lidava com outros negócios -compra e venda de heroína, importação ilegal de armas, contrabando, extorsão, homicídios, agiotagem, jogos de azar e roubo.
Em outubro de 93 e maio de 94, os "carabinieri" apreenderam um total de 120 metralhadoras russas, 40 lança-granadas e armas portáteis que seriam usadas para segurança de membros da rede e atentados contra magistrados e famílias de traficantes "arrependidos".

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