São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Infecção de HIV por droga é maior nos portos

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cerca de 60% dos portadores do vírus da Aids (HIV) em cidades como Salvador (BA), Itajaí (SC) e Santos (SP) foram infectados pelo uso de drogas injetáveis com seringas compartilhadas.
Os municípios que abrigam portos são os que apresentam maior porcentagem de contaminação pelo uso de drogas injetáveis.
Os Estados que fazem parte da rota do tráfico internacional de entorpecentes (Mato Grosso do Sul e Mato Grosso) também apresentam índice acima da média brasileira de contaminação por drogas injetáveis, assim como o Distrito Federal.
O percentual de contaminação por esse meio encontrado em Salvador, Itajaí e Santos está muito acima do registrado em países que adotaram programas regulares de troca de seringas, como Suíça e Holanda. Nesses países, os doentes infectados por uso de drogas injetáveis não chegam a 6% do total de contaminados.
Para reverter a situação, o Ministério da Saúde pressionar parlamentares para que seja aprovado até maio projeto de lei complementar que legalizará os programas oficiais de troca de seringas.
Hoje, a lei existente (6.368) é dúbia, porque caracteriza como crime qualquer ação que incentive o uso de drogas. E, dependendo do entendimento do juiz, a distribuição ou troca de seringas pode ser considerada incentivo ao consumo de entorpecentes.
No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, juízes têm permitido que ONGs (Organizações Não-Governamentais) e secretarias da saúde ofereçam a usuários de drogas a troca de seringas já utilizadas -e potencialmente contaminadas- por outras descartáveis.
Em São Paulo e na Bahia, os mesmos programas têm tido dificuldade em atuar porque recebem ordem judicial para suspender a troca de seringas.
O projeto que tornará a troca legal já foi aprovado em primeiro turno na Câmara e está no Senado. Se os senadores não fizerem alterações e o aprovarem, o projeto só dependerá de sanção presidencial para entrar em vigor.
Segundo o texto do projeto, só será permitida a troca ou distribuição de seringas descartáveis por órgãos ligados ao poder público.
"Além das secretarias estaduais e municipais da saúde, ONGs também poderão desenvolver programas nessa linha, desde que sob supervisão do poder público", diz Pedro Chequer, coordenador do Programa Nacional de DST/Aids.
Em 97, o ministério vai gastar US$ 10 milhões com o "Projeto Drogas", cuja meta é reduzir a contaminação pelo uso de drogas injetáveis.
Itajaí é a cidade com maior coeficiente de incidência de Aids no país: 545,1 em cada 100 mil habitantes têm a doença.
Em seguida, aparecem Santos (com coeficiente de incidência de 483,3) e Camboriú (469,7). Salvador aparece em 72º lugar.

Texto Anterior: Brasil produz vacina contra hepatite
Próximo Texto: Programa atinge 9 Estados
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.